As Ideologias e o Poder em Crise
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dissenso, não admite que o direito ao dissenso seja exercido de modo<br />
a impedir o direito igual e contrário de não estar de acordo com o<br />
desacordo.<br />
Por isso afirmo que há dissenso e dissenso. O critério que<br />
permite distinguir um do outro é o mesmo que nos permitiu<br />
distinguir, no artigo anterior, o consenso de uma d<strong>em</strong>ocracia liberal<br />
do consenso de uma d<strong>em</strong>ocracia totalitária. Com base no princípio de<br />
que só existe d<strong>em</strong>ocracia quando existe consenso e dissenso livres, tão<br />
pouco d<strong>em</strong>ocrático é o sist<strong>em</strong>a político que impede o dissenso como o<br />
movimento político de dissencientes que não tolera os consencientes.<br />
Da mesma forma que o consenso exclusivista é próprio dos sist<strong>em</strong>as<br />
políticos autoritários, também o dissenso exclusivista é próprio dos<br />
movimentos revolucionários.<br />
Um movimento revolucionário, já <strong>em</strong> seu germe (e não há dúvida<br />
de que os movimentos estudantis são tanto no b<strong>em</strong> como no mal<br />
movimentos revolucionários), funda-se e deve fundar-se no princípio<br />
da unanimidade, ou seja, num princípio que contrasta com a regra<br />
da maioria, base de todo o sist<strong>em</strong>a d<strong>em</strong>ocrático, e que se fosse<br />
aplicado colocaria todo regime d<strong>em</strong>ocrático na condição de não poder<br />
funcionar. De resto, assim como o movimento revolucionário é quase<br />
s<strong>em</strong>pre a única resposta possível, ainda que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre eficaz, a um<br />
regime autoritário, assim também entende-se perfeitamente por que<br />
o consenso exclusivista e o dissenso exclusivista exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação<br />
recíproca. Para voltar aos fatos da Universidade de Roma, os grupos<br />
que impuseram seu dissenso recorrendo até à violência sustentam<br />
que não tinham outro meio para afastar um consenso que não era<br />
proposto através de uma discussão aberta, mas imposto através de<br />
um comício não-solicitado.<br />
No que se refere ao t<strong>em</strong>a do princípio da maioria como regra<br />
áurea da d<strong>em</strong>ocracia, foram abordadas infinitas variações. Num<br />
discurso como o presente, <strong>em</strong> que por d<strong>em</strong>ocracia se entende o<br />
sist<strong>em</strong>a político que consente ao cidadão a livre escolha entre<br />
consenso e dissenso, o princípio da maioria revela toda a sua