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As Ideologias e o Poder em Crise

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Existe <strong>em</strong> J<strong>em</strong>olo uma veia pessimista, como de resto <strong>em</strong> todos os<br />

escritores que têm vocação de moralistas. Mas não é um pessimismo<br />

s<strong>em</strong> esperança. O pessimismo, o pessimismo cristão, segundo<br />

entendo, não é niilismo.<br />

Não sei se devo justificar também esta expressão "moralista".<br />

Convém, entretanto, falar sobre uma palavra recebida com reserva<br />

por muita gente que a ouve. Sobretudo num t<strong>em</strong>po como o nosso, <strong>em</strong><br />

que as formas mais repugnantes de degradação moral — que<br />

diariamente estão diante de nossos olhos — são justificadas e por<br />

vezes até exaltadas como liberação salutar de inconfessáveis e<br />

confessados tabus. Exatamente por isso existe um sentido <strong>em</strong> que a<br />

palavra "moralista" t<strong>em</strong> direito de sobreviver <strong>em</strong> sua significação mais<br />

alta.<br />

Reportando-me à distinção fundamental, que entre outras<br />

coisas serve para distinguir a ação moral pura da ação política pura,<br />

entre ética de princípios e ética das responsabilidades, chamo<br />

"moralista" aquele que julga a própria ação e a ação alheia não com<br />

base <strong>em</strong> resultados, no sucesso, ou seja, no que se segue à ação, mas<br />

com base no princípio que a inspirou e que v<strong>em</strong> necessariamente<br />

antes.<br />

A máxima que exprime melhor o núcleo essencial desta ética,<br />

de qualquer raciocínio e de qualquer explicação, é a seguinte: "faze<br />

aquilo que deves e aconteça aquilo que pode acontecer". É uma<br />

máxima que tiv<strong>em</strong>os oportunidade de ler muitas vezes nos escritos de<br />

J<strong>em</strong>olo. De resto, só mesmo qu<strong>em</strong> fez sua a ética dos princípios e não<br />

a dos resultados pode ter escrito, como ele, nos dias angustiantes<br />

que culminaram com o assassinato de Aldo Moro; e pertencer ao<br />

grupo daqueles que prefer<strong>em</strong> morrer como Abel a viver como Caim.<br />

Entre a miríade de livros escritos por J<strong>em</strong>olo existe um que me<br />

é particularmente caro e que li e reli. É o seguinte: Os anos de prova<br />

(Gli anni di prova), publicado pela Neri Pozza <strong>em</strong> 1969. Um livro<br />

autobiográfico que, segundo me parece, passou quase despercebido.<br />

Esse livro fez-me entender entre outras coisas <strong>em</strong> que sentido

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