As Ideologias e o Poder em Crise
As Ideologias e o Poder em Crise
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interromper o vôo.<br />
O Estado, como todo ser vivo, antes de se deixar matar, se<br />
defende. O Estado nasce da força e só pode sobreviver através da<br />
força. E o próprio Estado que sobrevive através da força é de fato<br />
reconhecido e talvez reverenciado como Estado por quase todos os<br />
outros Estados, até por aqueles que se reg<strong>em</strong> ou acreditam reger-se<br />
pelo consenso.<br />
No mundo dos Estados, a única lei reconhecida é a lei do<br />
mais forte, porque o Estado ou é a maior concentração de força<br />
existente num determinado território ou não é Estado. Portanto, não<br />
tenhamos muitas ilusões. <strong>Poder</strong><strong>em</strong>os continuar a ter um Estado<br />
s<strong>em</strong> ter d<strong>em</strong>ocracia. <strong>Poder</strong><strong>em</strong>os ter o fim da república e a<br />
continuação do Estado, s<strong>em</strong> república. Essa é uma primeira razão<br />
para defender, das duas teses opostas enunciadas no princípio, mais<br />
a negativa que a positiva.<br />
Existe uma outra razão. Falei das três funções mínimas do<br />
Estado moderno. O nosso aparelho estatal desenvolve-as mal, muito<br />
mal mesmo, as três ao mesmo t<strong>em</strong>po. Os cientistas políticos<br />
americanos chamam o poder de impor tributos, bizarra-mente, de<br />
"capacidade extrativa": se tivermos de avaliar a excelência de um<br />
Estado por sua capacidade extrativa, o Estado italiano deveria ser<br />
classificado entre os piores. Quanto ao poder jurisdicional, é de<br />
poucos dias atrás o episódio chocante de um grupo de terroristas<br />
que, após ter<strong>em</strong> decidido adotar a estratégia b<strong>em</strong> mais arriscada do<br />
processo de contestação <strong>em</strong> vez da tradicional do processo de<br />
conivência, que se serve das mesmas regras do ordenamento que se<br />
contesta, conseguiu o intento de impedir o desenvolvimento do<br />
processo, porque se mostrou, a respeito do poder terrorista, que é ou<br />
deveria ser o último recurso do Estado, com mais credibilidade que o<br />
próprio Estado.<br />
No que diz respeito ao poder de coação, esse episódio é<br />
significativo pela incrível ineficiência do grande aparelho que deveria<br />
ser o único detentor da legítima força num determinado território.