09.06.2013 Views

As Ideologias e o Poder em Crise

As Ideologias e o Poder em Crise

As Ideologias e o Poder em Crise

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

preestabelecidas, de tal forma que não pod<strong>em</strong> valer nunca retroativamente.<br />

A conseqüência principal dessa transformação é que nas relações entre<br />

cidadãos e Estado, ou entre cidadãos entre si, o direito de guerra<br />

fundado sobre a autotutela e sobre a máxima "T<strong>em</strong> razão qu<strong>em</strong> vence" é<br />

substituído pelo direito de paz fundado sobre a heterotutela e sobre a<br />

máxima "Vence qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> razão"; e o direito público externo, que se rege<br />

pela supr<strong>em</strong>acia da força, é substituído pelo direito público interno,<br />

inspirado no princípio da "supr<strong>em</strong>acia da lei" (rule of law).<br />

A prova de fogo desse tipo de ordenamento acontece quando, como<br />

é freqüente <strong>em</strong> todos os momentos da história italiana, as pessoas e os<br />

grupos declaram-se <strong>em</strong> guerra contra o Estado. Não tenho dificuldade <strong>em</strong><br />

crer que muitos sofr<strong>em</strong> a tentação de raciocinar da seguinte maneira: a<br />

guerra é uma relação recíproca, portanto, como não se pode fazer a<br />

guerra sozinho, qu<strong>em</strong> declara guerra a outro obriga o outro a ficar <strong>em</strong><br />

guerra com ele, mesmo a contragosto. Com medo e preocupados com o<br />

alastramento dos atos de guerra, como as agressões contra pessoas s<strong>em</strong><br />

culpa individual, mas que representam o inimigo, tudo faz<strong>em</strong> para que o<br />

Estado responda com atos de guerra a atos de guerra. O fim da guerra,<br />

como se sabe, não é individualizar um eventual culpado ou condená-lo,<br />

mas sim render o inimigo, matando-o ou fazendo-o prisioneiro.<br />

B<strong>em</strong> pelo contrário, a prova de fogo do Estado d<strong>em</strong>ocrático não está<br />

<strong>em</strong> deixar-se envolver num estado de guerra por nenhum de seus<br />

cidadãos, mas, sim, na capacidade de responder às declarações de guerra<br />

reafirmando, mais uma vez, solen<strong>em</strong>ente as tábuas da lei (que são a<br />

nossa Constituição). A fidelidade obstinada e coerente às tábuas da lei é<br />

o único e último baluarte contra os dois males extr<strong>em</strong>os do despotismo e<br />

da guerra civil.<br />

17 de julho de l977

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!