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OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

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370 Os Fundamentos da Liberdade<br />

problemas de maneira inteligente, a democn'\cia terá de aprender que<br />

deve pagar pela sua irresponsabilidade e que não pode assinar indefinidamente<br />

cheques resgatáveis no futuro para solucionar seus problemas<br />

atuais.<br />

Já se disse com propriedade que, se antes sofríamos com os males<br />

sociais, agora sofremos com os remédios para eles criados. < 41 > A diferença<br />

é que, enquanto anterio.rmente os males sociais estavam desaparecendo<br />

aos poucos com o crescimento da riqueza, os remédios que introduzimos<br />

nos últimos tempos começam a ameaçar a continuidade<br />

desse crescimento do qual depende todo progresso futuro. Em vez dos<br />

"cinco gigantes" que o Estado previdenciário do relatório Beveridge se<br />

destinava a combater, estamos agora criando novos gigantes que se poderão<br />

revelar inimigos ainda maiores de uma qualidade de vida condigna.<br />

Apesar de termos talvez dado alguns passos para vencer a necessidade,<br />

a ignorância, a miséria e a ociosidade, os resultados poderão ser menos<br />

positivos no futuro, mesmo nessa luta, quando os principais perigos<br />

estarão representados pela inflação, pelos impostos paralisantes, por sindicatos<br />

coercitivos, por um domínio crescente do Estado no campo educacional<br />

e por uma burocracia previdenciária com poderes arbitrários extremamente<br />

abrangentes - perigos dos quais o indivíduo não poderá escapar<br />

por seus próprios esforços e que o impúlso da máquina governamental<br />

superdimensionada agravará ao invés de abrandar.<br />

"fazer tábula rasa" e por maior que seja o encargo já assumido, na minha opinião esse<br />

repúdio seria um ponto de partida inevitável para qualquer tentativa de criação desistemas<br />

mais inteligentes.<br />

41 Esta frase foi pronunciada por Joseph Wood Krutch numa palestra informal.<br />

CAPÍTULO XX<br />

Taxação e Redistribuição<br />

"É da natureza das coisas que os começos sejam sempre pequenos; mas, a menos<br />

que o homem cuide de evitá-lo, logo se multiplicam e caminham de tal modo que<br />

ninguém depois consegue acompanhá-los." (*)<br />

1. A Questão Básica da Redistribuição<br />

F. GUICCIARDINI (ca. 1538)<br />

Por muitas razões eu gostaria de poder omitir este capítulo. De fato,<br />

a análise que nele empreendi ataca convicções que encontram a mais<br />

ampla aceitação e, com certeza, ferirá a suscetibilidade de muitas pessoas.<br />

Mesmo as que me seguiram até aqui e consideram, talvez, minhas<br />

posições razoáveis no conjunto, poderão achar minhas idéias sobre taxação<br />

doutrinárias, extremistas e não práticas. Várias dessas pessoas estariam<br />

provavelmente dispostas a restaurar toda a liberdade que venho<br />

advogando, se a injustiça que, segundo elas, tal sistema engendraria<br />

fosse corrigida por medidas adequadas de taxação. Redistribuição me-<br />

(')A epígrafe deste capítulo foi extraída de F. Guicciardini, "La decima scalata",<br />

Opere inedite, ed. P. e L. Guicciardini (Florença, 1867), X, 377. A ocasião em que a observação<br />

foi feita e a interessante análise sobre taxação progressiva, no século XVI, onde<br />

ela se situa, merecem um breve comentário.<br />

No século XV, a República de Florença, que por duzentos anos gozara de um regime<br />

de liberdade individual no âmbito da lei de que não se tinha notícia desde os tempos de<br />

Atenas e Roma, caiu sob o domínio da família Mediei que, aos poucos, foi conquistando<br />

poderes despóticos por meio de uma política com a qual conseguia o apoio das massas.<br />

Um dos instrumentos utilizados foi a taxação progressiva, segundo narra Guicciardini em<br />

outro escrito ("Dei reggimento di Firenze", Opere inedite, II, 40): "Sabemos muito bem<br />

quanto os nobres e os ricos foram oprimidos por Cosimo e, no período subseqüente, pelos<br />

impostos; e a razão - que os Médicis jamais admitiram - era que isto lhes oferecia um

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