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OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

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20 Os Fundamentos da Liberdade<br />

da civilização. Filósofos e estudiosos da sociedade têm geralmente atenuado<br />

sua importância, considerando-a uma imperfeição menor, que<br />

poderia ser mais ou menos desprezada. Mas, embora a análise de problemas<br />

sociais e morais baseada no pressuposto do conhecimento perfeito<br />

possa ocasionalmente ser útil como exercício preliminar de lógica,<br />

ela é de pouca utilidade quando se tenta explicar o mundo real. Tais<br />

problemas esbarram na "dificuldade prática" de que nosso conhecimento<br />

está, de fato, muito lónge da perfeição. Talvez seja perfeitamente<br />

natural que os cientistas tendam a salientar o que sabemos; mas no<br />

campo social, onde o que não sabemos é freqüentemente bem mais importante,<br />

o efeito desta tendência pode ser muito enganador. Muitas<br />

·construções utópicas não têm nenhum valor porque seguem a orientação<br />

dos teóricos ao supor que dispomos de um conhecimento perfeito.<br />

Deve-se admitir, porém, que nossa ignorância é um assunto particularmente<br />

difícil de ser analisado. Em princípio, parece até mesmo impossível,<br />

•por definição, falar de modo racional a seu respeito. Evidentemente,<br />

não podemos discutir de maneira inteligente algo sobre o que<br />

nada sabemos. Precisamos, pelo menos, ser capazes de formular as<br />

questões, ainda que não conheçamos as respostas. Isso exige algum conhecimento<br />

autêntico do universo que estamos discutindo. Para compreender<br />

o funcionamento da sociedade, devemos tentar definir a natureza<br />

geral e o grau de nossa ignorância neste campo. Se não podemos<br />

enxergar no escuro, devemos ser capazes de distinguir os contornos das<br />

zonas escuras.<br />

O equívoco do enfoque habitual aparece claramente quando examinamos<br />

o significado da afirmação de que o homem criou sua civilização<br />

e, portanto, também pode mudar as suas instituições a seu belprazer.<br />

Essa afirmação somente se justificaria se o homem tivesse criado<br />

deliberadamente a civilização em plena consciência dos efeitos de<br />

seus atos ou, pelo menos, se soubesse, efetivamente, como ela se estava<br />

perpetuando. Em certo sentido, o homem, de fato, criou sua civilização.<br />

Ela é o produto das suas ações, ou melhor, das ações de algumas<br />

centenas de gerações. No entanto, isso não quer dizer que a civilização<br />

seja o produto de um projeto humano, ou mesmo que o homem saiba<br />

do que depende seu funcionamento ou existência através dos tempos. < 1 ><br />

Toda a teoria de que o homem já surge dotado de uma mente ca-<br />

1 Cf. A. Ferguson, An Essay on the History oj Civil Society (Edimburgo, 1767), página<br />

279: ''O engenho do castor, da formiga e da abelha é atribuído à sabedoria da natureza.<br />

O engenho das nações civilizadas é atribuído a elas mesmas e, supostamente, indica<br />

uma capacidade superior àquela das mentes mais rudes. Mas os feitos humanos, como os<br />

de qualquer outro animal, são inspirados pela natureza, e são fruto do instinto, orientados<br />

pela variedade de situações com que a humanidade se depara. Esses feitos .advêm de<br />

avanços sucessivos ocorridos sem qualquer idéia de suas conseqüências gerais; e levam as<br />

relações humanas a uma situação tão complexa, que nem a maior agudeza de que a natureza<br />

humana foi jamais dotada poderia ter planejado; nem mesmo quando o todo é executado<br />

pode ser entendido em sua plenitude".<br />

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