26.06.2013 Views

OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

376 Os Fundamentos da Liberdade<br />

A evolução recente no campo da análise da utilidade em si, todavia,<br />

destruiu por completo os fundamentos dessa idéia. Sua validade<br />

desmoronou, em parte porque a idéia da possibilidade de se comparar a<br />

utilidade para diferentes pessoas < 10 > foi abandonada e, em parte, porque<br />

é muito duvidoso que o conceito da utilidade marginal decrescente<br />

possa ser legitimamente aplicado à renda como um todo, ou seja, que<br />

tenha alguma validade quando computamos como renda todas as vantagens<br />

que uma pessoa aufere do emprego de seus recursos. A partir do<br />

ponto de vista, hoje comumente aceito, de que utilidade é um conceito<br />

puramente relativo (ou seja, só podemos dizer que uma coisa tem<br />

maior, igual, ou menor utilidade quando comparada com outra coisa, e<br />

que não faz o menor sentido falar do grau de utilidade de algo em si),<br />

segue-se que só poderemos falar de utilidade (e de utilidade decrescente)<br />

da renda se expressarmos o conceito de utilidade da renda em termos de<br />

algum outro bem desejado, tal como o lazer (ou a abstenção de<br />

esforço). Mas, se examinássemos as implicações da afirmação de que a<br />

utilidade da renda em termos de esforço é decrescente, chegaríamos a<br />

curiosas conclusões. Na realidade, equivaleria a dizer que, à medida<br />

que a renda de uma pessoa cresce, o incentivo em termos da renda adicional<br />

necessária para induzir um mesmo esforço marginal também aumentaria.<br />

Isto nos poderia levar a defender a taxação regressiva, porém<br />

jamais a progressiva. Todavia, não vale a pena seguirmos adiante nessa<br />

linha de raciocínio. Pouca dúvida pode restar agora de que o uso do<br />

conceito de utilidade na teoria da taxação não passou de um lamentável<br />

equívoco (no qual incorreram alguns dos mais eminentes economistas<br />

da época) e de que, quanto antes nos livrarmos da confusão que causou,<br />

tanto melhor.<br />

3. Mudanças em sua Justificativa<br />

Aqueles que advogavam a taxação progressiva no final do século<br />

çào progressiva ganhou fundamentos realmente sólidos no que se refere aos princípios".<br />

Mais recentemente, T. Barna, em Redistribution oj lncomes through Public Finance (Oxford:<br />

Oxford University Press, 1945), página 5, ainda argumentava que, "dada a renda<br />

nacional total, a satisfação é maximizada mediante uma igual distribuição da renda. Este<br />

argumento baseia-se, por um lado, na lei da utilidade marginal decrescente da renda e,<br />

por outro, no pressuposto (baseado nos postulados da democracia política e não nos da<br />

economia) de que as pessoas com idêntico nível de renda têm a mesma capacidade de se<br />

satisfazer. Além disso, a doutrina atualmente aceita nega haver qualquer virtude na poupança<br />

(que uma renda elevada torna muito mais fácil) enquanto houver desemprego,<br />

caindo desse modo por terra a principal justificativa tradicional da desigualdade".<br />

10 Esta conclusão pode ser considerada profundamente arraigada, apesar da constante<br />

objeção de que, individualmente, a maioria tem opiniões definidas quanto à maior<br />

ou menor necessidade de um indivíduo. O fato de adotarmos uma posição a esse respeito<br />

não implica absolutamente que exista qualquer base objetiva para se decidir com quem<br />

está a razão quando as pessoas têm divergentes opiniões sobre a importância relativa das<br />

necessidades das diversas pessoas; tampouco pode haver qualquer indício de ser possível<br />

um acordo entre elas.<br />

Taxação e Redistribuição 377<br />

XIX costumavam ressaltar que seu único objetivo era a igualdade de sacrifícios<br />

e não a redistribuição de renda. Sustentavam também que esse<br />

objetivo poderia justificar apenas um grau "moderado" de progressividade<br />

e que seu emprego "excessivo" (como aconteceu em Florença no<br />

século XV, quando as taxas foram elevadas a 50%) deveria, naturalmente,<br />

ser condenado. Embora tenham fracassado todas as tentativas<br />

de se estabelecer um padrão objetivo para uma taxa adequada de progressividade<br />

e não tenha sido oferecida nenhuma solução quando se objetou<br />

que, uma vez aceito o princípio, não seria possível determinar<br />

qualquer limite para a aplicação do critério de progressividade com a<br />

mesma justificativa, o debate se desenvolveu inteiramente em torno de<br />

taxas futuras que faziam parecer insignificante qualquer efeito sobre a<br />

distribuição de renda. A ponderação de que as taxas não se manteriam<br />

dentro desses limites foi considerada uma distorção deliberada da questão,<br />

que traía uma censurável falta de confiança na sabedoria do gover7<br />

no democrático.<br />

Foi na Alemanha, país que então liderava a "reforma social", que<br />

os defensores da taxação progressiva conseguiram vencer pela primeira<br />

vez a resistência e a medida começou a evoluir em sua forma moderna.<br />

Em 1891, a Prússia introduziu um imposto de renda progressivo que ia<br />

de 0,670Jo a 4%. Em\vão protestou na Dieta Rudolf von Gneist, o venerável<br />

líder do movimento em favor do Rechtsstaat, que na época chegava<br />

ao ápice, que aquilo significava o afastamento do princípio fundamental<br />

de igualdade perante a lei, "do mais sagrado princípio de igualdade",<br />

a única barreira contra a usurpação da propriedade. < 11 > O valor<br />

insignificante da carga tributária proposta no novo sistema tornou,<br />

contudo, ineficaz qualquer tentativa de oposição baseada numa questão<br />

de principio.<br />

Embora outros países europeus prontamente seguissem o exemplo<br />

da Prússia, passariam quase vinte anos antes que o movimento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!