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OS FUNDAMENTOS DA LIBERDADE

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CAPÍTULO XXIV<br />

Educação"e Pesquisa<br />

"O sistema de ensino público para todos é um mero artifício destinado a moldar<br />

as pessoas para que se tornem exatamente iguais umas às outras: e o molde utilizado<br />

é aquele que. agrada a quem exerce o poder, quer seja uma monarquia, mna<br />

classe de sacerdotes, uma aristocracia, quer a maioria da aluai geração; na medida<br />

em que este sistema seja eficiente e produza resultados positivos, contribuirá para<br />

instaurar o despotismo sobre a mente, levando, por uma tendência natural, ao despotismo<br />

sobre o corpo." (")<br />

1. Os Direitos das Crianças<br />

J. S. MILL<br />

O conhecimento é talvez o bem supremo que pode ser adquirido a<br />

um preço determinado; entretanto, aqueles que ainda não o têm normalmente<br />

não reconhecem sua utilidade. E, o que é ainda mais importante,<br />

o acesso às fontes do conhecimento necessário para o funcionamento<br />

da sociedade moderna pressupõe o domínio de certas técnicassobretudo<br />

a leitura - que as pessoas devem ter antes de poder julgar os<br />

benefícios que estas lhes poderão trazer. Embora nossa justificativa da<br />

liberdade esteja em grande parte fundamentada na idéia de que a concorrência<br />

é um dos mais poderosos instrumentos de difusão do conhecimento<br />

e de que geralmente demonstra o valor deste aos que ainda não o<br />

(')A epígrafe deste capítulo foi extraída da obra de J. S. Mill On Liberty, editada<br />

por R. B. McCallum (Oxford, 1946), página 95. Cf. também Bertrand Russell, em comentário<br />

sobre a mesma questão, 95 anos mais tarde, na conferência" John Stuart Mil!",<br />

Proceedings of the British Academy, XLI (1955), 57: "O ensino público, nos países que<br />

adotam os princípios [de Fichte], quando eficiente, gera uma horda de fanáticos ignorantes,<br />

prontos a atender a ordens superiores· para se engajar em guerras ou perseguições,<br />

conforme lhes seja ordenado. Este mal é tão grande, que o mundo seria um lugar melhor<br />

(pelo menos em minha opinião) se o ensino público nunca tivesse sido implantado".<br />

Educação e Pesquisa 447<br />

têm, não há dúvida de que a utilização do conhecimento pode ser significativamente<br />

ampliada mediante esforços deliberados. A ignorância é<br />

uma das principais razões pelas quais a energia do homem freqüentemente<br />

não é canalizada de modo a ser da máxima utilidade aos seus semelhantes,<br />

havendo várias razões pelas quais pode ser benéfico para toda<br />

a comunidade que o conhecimento seja levado a pessoas que se sentem<br />

pouco estimuladas a procl.irá-lo ou a fazer algum sacrifício para adquiri-lo.<br />

Tais razões são especialmente relevantes no caso de crianças,<br />

mas aplicam-se também a adultos.<br />

Com relação a crianças, é importante notar, naturalmente, que<br />

não são indivíduos responsáveis a quem se possa aplicar plenamente o<br />

conceito de liberdade. Embora geralmente corresponda ao interesse das<br />

crianças que seu bem-estar físico e mental fique a cargo de seus pais ou<br />

tutores, não significa que os pais devam ter liberdade irrestrita para tratar<br />

seus filhos como bem entenderem. Os outros membros da comunidade<br />

têm o direito de se interessar pelo bem-estar das crianças. É óbvio<br />

também que a comunidade tem o direito de exigir que os pais ou responsáveis<br />

garantam aos que estão sob sua responsabilidade um grau<br />

mínimo de educação. < 1 ><br />

Na sociedade contemporânea, defende-se a educação compulsória<br />

até determinado padrão mínimo por duas razões básicas. Em primeiro<br />

lugar, o consenso geral de que os riscos serão muito menores e os benefícios<br />

muito maiores se os nossos semelhantes compartilharem conosco<br />

certos conhecimentos e convicções básicas. Em segundo lugar, num<br />

país que tem instituições democráticas, há outra consideração importante:<br />

a democracia provavelmente não funcionará, a não ser em escala<br />

local muito pequena, quando o povo é parcialmente analfabeto. < 2 ><br />

É importante ,admitir que a educação geral não constitui apenas, e<br />

I Cf. Mill, op. cit., páginas 94-95: "É-no que diz respeito às crianças que as idéias de<br />

liberdade, quando mal aplicadas, realmente impedem ao Estado o cumprimento de seus<br />

deveres. Poderíamos pensar que os filhos são literalmente, e não apenas metaforicamente,<br />

parte do próprio indivíduo que os gerou, tanto a opinião pública teme a menor interferência<br />

da lei no controle absoluto e exclusivo dos pais sobre as crianças, mais que qualquer<br />

interferência em sua própria liberdade de ação; pois a humanidade, na maior parte,<br />

dá mais valor ao poder do que à liberdade. Examinemos, por exemplo, o caso da educação.<br />

Não pareceria óbvio que o Estado exigisse que todo cidadão recebesse certo nível de<br />

educação? ( ... )Se o Estado exigisse que cada criança tivesse uma boa educação, pouparia<br />

a si mesmo o trabalho de proporcioná-la. O governo poderia deixar que os pais buscassem<br />

esta educação onde e como quisessem, limitando-se a ajudar a pagar as taxas escolares<br />

das crianças mais pobres e encarregando-se da totalidade dos gastos das que não têm<br />

quem lhes pague a educação. As justas objeções ao ensino público não se aplicam à exigência<br />

de educação pelo Estado, mas à pretensão por parte do Estado de controlar a educação,<br />

o que é uma questão totalmente diferente".<br />

2 f[istoricamente, as necessidades do serviço militar compulsório para todos tiveram<br />

provavelmente um efeito muito mais decisivo no sentido de levar a maioria dos governos<br />

a tornar a educação obrigatória do que as necessidades do sufrágio universal.

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