Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Dany apercebeu-se <strong>de</strong> que naquele momento não <strong>de</strong>sejava ouvir nenhuma<br />
das queixas do irmão. O dia estava <strong>de</strong>masiado perfeito. O céu era<br />
<strong>de</strong> um azul profundo, e muito acima <strong>de</strong>les, um falcão caçador voava em<br />
círculos. O mar <strong>de</strong> erva oscilava e suspirava a cada sopro <strong>de</strong> vento, o ar batia-lhe<br />
morno no rosto, e Dany sentia-se em paz. Não <strong>de</strong>ixaria que Viserys<br />
a estragasse.<br />
— Esperai aqui — disse Dany a Sor Jorah. — Dizei-lhes a todos para<br />
ficar. Dizei-lhes que eu o or<strong>de</strong>no.<br />
O cavaleiro sorriu. Sor Jorah não era um homem bonito. Tinha pescoço<br />
e ombros <strong>de</strong> touro e ru<strong>de</strong>s pêlos negros cobriam-lhe os braços e pescoço<br />
<strong>de</strong> uma forma tão <strong>de</strong>nsa que nenhum restava para a cabeça. Mas os<br />
seus sorrisos davam a Dany conforto.<br />
— Estais a apren<strong>de</strong>r a falar como uma rainha, Daenerys.<br />
— Uma rainha, não — disse Dany. — Uma Khaleesi. — Fez girar o<br />
cavalo e galopou sozinha pela encosta abaixo.<br />
A <strong>de</strong>scida era íngreme e rochosa, mas Dany cavalgou <strong>de</strong>stemidamente,<br />
e o júbilo e perigo daquilo eram uma canção no seu coração. Toda a sua<br />
vida Viserys lhe dissera que era uma princesa, mas só quando montou a sua<br />
prata é que Daenerys Targaryen se sentira como uma.<br />
A princípio não fora fácil. O khalasar levantara o acampamento na<br />
manhã seguinte ao casamento, dirigindo-se para leste em direcção a Vaes<br />
Dothrak, e ao terceiro dia, Dany pensou que ia morrer. Feridas provocadas<br />
pela sela abriram-se no seu traseiro, hediondas e sangrentas. As suas coxas<br />
ficaram em carne viva, as ré<strong>de</strong>as fizeram nascer bolhas nas suas mãos, e os<br />
músculos das pernas e das costas estavam <strong>de</strong> tal forma doridos que quase<br />
não era capaz <strong>de</strong> se sentar. Quando caía o crepúsculo, as criadas tinham <strong>de</strong><br />
a ajudar a <strong>de</strong>smontar.<br />
Nem mesmo as noites traziam alívio. Khal Drogo ignorava-a enquanto<br />
viajavam, tal como a ignorara durante o casamento, e passava o princípio<br />
da noite a beber com os seus guerreiros e companheiros <strong>de</strong> sangue, a<br />
competir com os seus melhores cavalos, a ver mulheres dançar e homens<br />
morrer. Dany não tinha lugar naquelas partes da sua vida. Era abandonada<br />
para jantar sozinha ou com Sor Jorah e o irmão, e <strong>de</strong>pois para chorar<br />
até adormecer. Mas todas as noites, em algum momento antes da alvorada,<br />
Drogo vinha ter com ela à sua tenda e acordava-a na escuridão para a montar<br />
tão implacavelmente como montava o seu garanhão. Possuía-a sempre<br />
por trás, à moda Dothraki, e Dany sentia-se grata por isso; <strong>de</strong>ssa maneira<br />
o senhor seu marido não podia ver as lágrimas que lhe molhavam o rosto<br />
e podia usar a almofada para abafar os seus gritos <strong>de</strong> dor. Quando acabava,<br />
fechava os olhos e começava a ressonar baixinho e Dany <strong>de</strong>itava-se a seu<br />
lado, com o corpo dorido e magoado, com <strong>de</strong>masiadas dores para dormir.<br />
27