You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Quando <strong>de</strong>ixaram o garanhão cair, o banho estava vermelho escuro,<br />
e nada se via <strong>de</strong> Drogo a não ser o seu rosto. Mirri Maz Duur não precisava<br />
da carcaça.<br />
— Queimai-a — disse-lhes Dany. Sabia que era o que faziam. Quando<br />
um homem morria, a montada era morta e colocada sob o seu corpo na<br />
pira funerária, a fim <strong>de</strong> o transportar para as terras da noite. Os homens do<br />
seu khas arrastaram a carcaça para fora da tenda. Havia sangue por todo<br />
o lado. Até as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sedareia estavam manchadas <strong>de</strong> vermelho, e as<br />
esteiras sob os seus pés estavam negras e húmidas.<br />
Foram acesos braseiros. Mirri Maz Duur atirou um pó vermelho sobre<br />
os carvões. Dava ao fumo um odor a especiaria, um cheiro bastante<br />
agradável, mas Eroeh fugiu aos soluços, e Dany encheu-se <strong>de</strong> medo. Mas<br />
fora <strong>de</strong>masiado longe para voltar atrás agora. Mandou as aias embora.<br />
— I<strong>de</strong> com elas, Senhora <strong>de</strong> Prata — disse-lhe Mirri Maz Duur.<br />
— Eu fico — disse Dany. — O homem possuiu-me sob as estrelas e<br />
<strong>de</strong>u vida à criança que trago <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Não o abandonarei.<br />
— Ten<strong>de</strong>s <strong>de</strong> o fazer. Quando eu começar a cantar, ninguém <strong>de</strong>ve<br />
entrar nesta tenda. A minha canção acordará po<strong>de</strong>res antigos e escuros. Os<br />
mortos dançarão aqui esta noite. Nenhum vivente <strong>de</strong>ve olhá-los.<br />
Dany inclinou a cabeça, impotente.<br />
— Ninguém entrará. Dobrou-se sobre a banheira, sobre Drogo e o<br />
seu banho <strong>de</strong> sangue, e beijou-o suavemente na testa. — Trá-lo <strong>de</strong> volta<br />
para mim — sussurrou a Mirri Maz Duur antes <strong>de</strong> sair.<br />
Lá fora, o sol estava baixo no horizonte, e o céu era <strong>de</strong> um vermelho<br />
ferido. O khalasar acampara. Havia tendas e esteiras <strong>de</strong> dormir até on<strong>de</strong> o<br />
olhar chegava. Soprava um vento quente. Jhogo e Aggo cavavam um buraco<br />
<strong>de</strong> fogo, para incinerar o garanhão morto. Reunira-se uma multidão<br />
para olhar Dany com olhos negros e duros, com rostos como máscaras <strong>de</strong><br />
cobre martelado. Viu Sor Jorah Mormont, trazendo agora cota <strong>de</strong> malha<br />
e couro, com a larga testa <strong>de</strong> quem vai per<strong>de</strong>ndo cabelo salpicada <strong>de</strong> suor.<br />
Sor Jorah abriu caminho aos empurrões por entre os dothraki para se pôr<br />
ao lado <strong>de</strong> Dany. Quando viu as pegadas escarlate que as botas <strong>de</strong>la tinham<br />
<strong>de</strong>ixado no chão, a cor pareceu escoar-lhe do rosto.<br />
— Que fizestes, pequena louca? — perguntou ele em voz rouca.<br />
— Tinha <strong>de</strong> o salvar.<br />
— Podíamos ter fugido — disse ele. — Podia ter-vos levado a salvo até<br />
Asshai, princesa. Não havia necessida<strong>de</strong>…<br />
— Sou <strong>de</strong>veras vossa princesa? — perguntou-lhe ela.<br />
— Sabeis que sim, que os <strong>de</strong>uses nos salvem a ambos.<br />
— Então ajudai-me agora.<br />
Sor Jorah fez uma careta.<br />
87