29.12.2014 Views

Diretoria da EMERJ

Diretoria da EMERJ

Diretoria da EMERJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

consequências. Mesmo a figura do tatbestand ou <strong>da</strong> fattispecie<br />

(tipici<strong>da</strong>de) é relativa, porque ela se baseia numa semelhança de<br />

categorias de fatos, quando não é possível contrapor situação de<br />

fato a efeito jurídico, porque aquela só pode ser concebi<strong>da</strong> dentro<br />

de uma norma, pois é desta que dependem os fatos extrajurídicos<br />

para se tornarem jurídicos. O tipo de fato só passa a ter efeitos<br />

jurídicos quando examinado de acordo com a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> norma<br />

que o regula.<br />

Carnelutti diz que a fattispecie é conceito, uma possibili<strong>da</strong>de,<br />

ao passo que o fato é história, é reali<strong>da</strong>de, é uma existência.<br />

Devido a to<strong>da</strong>s essas dificul<strong>da</strong>des, é que hoje já se fala em distinguir<br />

a existência <strong>da</strong> essência dos fatos, aquela examina<strong>da</strong> pelo juiz<br />

de primeira instância ou de instância inferior (juízo histórico), e<br />

esta examina<strong>da</strong> pelos tribunais superiores em matéria de cassação<br />

(juízo crítico).<br />

A matéria é importantíssima para distinguir questões de fato<br />

de questões de direito em recurso extraordinário. Para o excelente<br />

jurista Amílcar de Castro, o juiz cria os fatos e o direito. Não se<br />

pode dizer, afirma ele, que o juiz aplica o direito aos fatos, porque<br />

fatos não são os acontecimentos em si mesmos, mas os acontecimentos<br />

vistos à luz de critérios estabelecidos pelas normas jurídicas.<br />

O juiz reconstitui os fatos através de um resumo <strong>da</strong>s provas<br />

por ele interpreta<strong>da</strong>s. O fato, perante o juiz, é sempre um fato reconstituído<br />

e nunca um fato acontecido, é sempre uma resolução<br />

judicial que declara o que aconteceu, o juiz não julga fatos, mas<br />

só a prova dos fatos; fato para o juiz “pode não ser aquilo que os<br />

interessados viram acontecer, mas é sempre o que o juiz verificou<br />

nos autos e declara que aconteceu”.<br />

Frank diz que os fatos são subjetivos, e Satta escreve que o<br />

juiz cria o fato, não como invenção, mas como escolha, através de<br />

mil possibili<strong>da</strong>des ou hipóteses, <strong>da</strong>quelas que lhe pareceram mais<br />

conformes à reali<strong>da</strong>de, escolha que é criação e não simples percepção.<br />

Daí poder a sentença estabelecer uma ver<strong>da</strong>de fictícia,<br />

formal ou legal, presumi<strong>da</strong>, que pode não coincidir com a ver<strong>da</strong>de<br />

real, ou seja, a coisa julga<strong>da</strong> pode fazer do branco, preto, e do<br />

quadrado, redondo. V. fato e direito. B. Amílcar de Castro, Direito<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>EMERJ</strong>, v. 13, nº 49, 2010<br />

127

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!