O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
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arquimediano, um lugar seguro, que nem mesmo as artimanhas <strong>de</strong> um “gênio maligno”<br />
e absolutamente po<strong>de</strong>roso po<strong>de</strong>riam alcançar: o pensamento. Assim nasceu a expressão<br />
que se tornaria a marca cartesiana: cogito ergo sum (penso então sou). Por questões<br />
metodológicas, nosso estudo não aprofunda esse grandioso passo cartesiano, a ele<br />
reservamos apenas a introdução do capítulo respectivo.<br />
Todas as provas cartesianas <strong>para</strong> a existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> têm por base o<br />
pensamento, ou mais propriamente dizendo, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> na mente h<strong>uma</strong>na. Por<br />
isso, <strong>de</strong>dicamos os itens II e III à análise dos conceitos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia e <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>,<br />
respectivamente. Esses dois itens são introdutórios às provas cartesianas que se<br />
encontram, por <strong>sua</strong> vez, no item IV.<br />
Um princípio fundamental utilizado por Descartes <strong>para</strong> sustentar seus<br />
argumentos é o <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, apresentado no item 2.3 do primeiro capítulo. Esse<br />
princípio advém, segundo Descartes, por <strong>uma</strong> luz natural, ou seja, a luz interna da razão<br />
torna evi<strong>de</strong>nte e certa a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a(s) causa(s) têm que ser igual(is) ou<br />
superior(es) aos efeitos.<br />
Não obstante essa certeza cartesiana, o princípio da não inferiorida<strong>de</strong> da causa<br />
enfrentou várias objeções, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época cartesiana até nossos dias. Destacamos, em<br />
nosso estudo, aquelas feitas por Cottingham, estudioso <strong>de</strong> Descartes, porque elas estão<br />
mais próximas <strong>de</strong> nosso tempo, o que facilitaria a compreensão não somente das<br />
objeções como também do próprio princípio.<br />
Para enten<strong>de</strong>r melhor o conceito <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> na filosofia <strong>de</strong> Descartes, enquanto<br />
<strong>de</strong>signa a perfeição plena, diferenciamo-lo <strong>de</strong> outros dois: o <strong>infinito</strong> matemático, além<br />
<strong>de</strong> outro reservado à vonta<strong>de</strong>. Esse último po<strong>de</strong> ser subdividido em três: a vonta<strong>de</strong> como<br />
infinitu<strong>de</strong> extensiva (aberta a todos os objetos possíveis, sem qualquer limite), a vonta<strong>de</strong><br />
como amplitu<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sejo (como aspiração infinita <strong>para</strong> aquilo que ainda não se possui)<br />
e, finalmente, a vonta<strong>de</strong> como liberda<strong>de</strong> (que se assemelha à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, <strong>uma</strong> vez<br />
que <strong>sua</strong> ação é criadora, pois faz passar algo da mera possibilida<strong>de</strong> à existência e, ao<br />
mesmo tempo, exclui infinitas possibilida<strong>de</strong>s, reduzindo-as ao nada).<br />
Mostramos ainda que, a bem do rigor conceitual, Descartes não consi<strong>de</strong>ra<br />
apropriada a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> <strong>para</strong> a matemática, ele prefere a qualificação <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>terminado. Trata-se do <strong>infinito</strong> quantitativo, quando não se conhece, por exemplo, a<br />
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