O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
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A essência do Cristianismo apresenta os predicados divinos em com<strong>para</strong>ção com<br />
os valores h<strong>uma</strong>nos. O objetivo <strong>de</strong>ssa analogia é mostrar que os predicados divinos são<br />
apenas construções h<strong>uma</strong>nas. Todos os atributos da divinda<strong>de</strong>, sabedoria, onipotência,<br />
bonda<strong>de</strong>, justiça, etc. correspon<strong>de</strong>m a perfeições e valores h<strong>uma</strong>nos, que são<br />
transportados analogamente a um ente infinitamente superior ao ser h<strong>uma</strong>no. O termo<br />
“<strong>Deus</strong>” <strong>de</strong>signa apenas um conjunto <strong>de</strong> predicados, um conceito geral - resultado da<br />
abstração, mas que é concebido como sujeito, único, real e existente.<br />
Os predicados divinos são muitos porque são diversos os <strong>de</strong>sejos e qualida<strong>de</strong>s<br />
h<strong>uma</strong>nas. Eles são contingentes e históricos porque o indivíduo h<strong>uma</strong>no não é o mesmo<br />
em todos os tempos. O ser h<strong>uma</strong>no <strong>de</strong>seja sabedoria e eternida<strong>de</strong>, por isso construiu um<br />
<strong>Deus</strong> infinitamente sábio e eterno. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser bom e justo edificou um <strong>Deus</strong><br />
infinitamente justo e bom. Reafirmamos, <strong>para</strong> Feuerbach, há <strong>uma</strong> relação dos<br />
predicados divinos com as aspirações h<strong>uma</strong>nas.<br />
Não é por acaso que os <strong>de</strong>uses homéricos tinham como qualida<strong>de</strong> a força física,<br />
porque os homens guerreiros daquela época tinham a força física como um valor - o<br />
<strong>Deus</strong> mais po<strong>de</strong>roso <strong>para</strong> eles era o da guerra. Os gregos exprimiam nas estátuas dos<br />
seus <strong>de</strong>uses qualida<strong>de</strong>s, como dignida<strong>de</strong>, magnanimida<strong>de</strong>, tranquilida<strong>de</strong> e<br />
imperturbabilida<strong>de</strong> somente porque tinham essas características como qualida<strong>de</strong>s do<br />
próprio homem. 140<br />
Os tempos mudam e com isso os seres h<strong>uma</strong>nos se modificam e,<br />
consequentemente, os <strong>Deus</strong>es se transformam. Caso os pássaros tivessem <strong>de</strong>uses, afirma<br />
Feuerbach, certamente eles teriam asas, porque <strong>para</strong> os pássaros não há nada superior a<br />
um ser alado. 141 A religião extrai os valores e os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do ser h<strong>uma</strong>no e os<br />
torna divinos como se fossem se<strong>para</strong>dos do próprio ser h<strong>uma</strong>no, porém em <strong>Deus</strong> eles<br />
são perfeitos, isto é, são <strong>infinito</strong>s.<br />
É por isso que afirmamos anteriormente que os atributos divinos não são<br />
construídos <strong>de</strong> forma aleatória; ao contrário, eles revelam os mais íntimos <strong>de</strong>sejos e as<br />
virtu<strong>de</strong>s do ser h<strong>uma</strong>no. Os objetos sensíveis estão fora do ser h<strong>uma</strong>no. Mas o objeto<br />
religioso resi<strong>de</strong> nele, na <strong>sua</strong> interiorida<strong>de</strong>, na <strong>sua</strong> autoconsciência. “(...) <strong>Deus</strong> é a<br />
140 FEUERBACH, EC, 2007, p. 51.<br />
141 FEUERBACH, EC, 2007, p. 48.<br />
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