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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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o que diz Descartes nestes termos: “(...) a vonta<strong>de</strong> em certo sentido po<strong>de</strong> parecer<br />

infinita, <strong>uma</strong> vez que não percebemos nada que possa ser objeto <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> outra<br />

vonta<strong>de</strong>, mesmo <strong>de</strong>sta imensa vonta<strong>de</strong> que está em <strong>Deus</strong>, ao qual a nossa não possa<br />

também se esten<strong>de</strong>r (...)”. 57<br />

A segunda forma <strong>de</strong> infinitu<strong>de</strong> própria da vonta<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> à amplitu<strong>de</strong><br />

intensiva do <strong>de</strong>sejo como aspiração infinita daquilo que ainda não se possui. Com<br />

efeito, o impulso da vonta<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na <strong>para</strong> seu bem é absolutamente ilimitado, já que ela<br />

não se contenta com nenhum bem particular, antes aspira sempre a mais. Descartes<br />

também é explícito a esse respeito: “Eu sou <strong>uma</strong> coisa imperfeita, incompleta e<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outro, que ten<strong>de</strong> e que aspira sem cessar a alg<strong>uma</strong> coisa melhor e maior<br />

que eu não sou”. 58<br />

À luz da explicação anterior sobre a noção <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> em Descartes, essas duas<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> infinitu<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na, não po<strong>de</strong>ndo correspon<strong>de</strong>r ao <strong>infinito</strong><br />

propriamente dito, <strong>de</strong>verão ser classificadas como in<strong>de</strong>finidas. Com efeito, a vonta<strong>de</strong><br />

não é sem limites sob todos os aspectos, mas apenas no seu <strong>de</strong>sejo e na extensão <strong>de</strong> seu<br />

objeto. Na verda<strong>de</strong>, ela não tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> realizar ou <strong>de</strong> dar a si mesma tudo o que ela<br />

<strong>de</strong>seja e quer, nem <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se efetivamente àquilo que ela não conhece <strong>de</strong> certo<br />

modo. 59 E essa incapacida<strong>de</strong> manifesta justamente a <strong>sua</strong> finitu<strong>de</strong>.<br />

Entretanto, o caráter in<strong>de</strong>finido da vonta<strong>de</strong>, especialmente em <strong>sua</strong> aspiração <strong>para</strong><br />

sempre mais, é sui generis, único. Com efeito, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> não resulta aqui <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> progressão meramente mental mediante <strong>uma</strong> série ou <strong>uma</strong> extensão ilimitada, cujo<br />

fim não existe ou não se conhece. Trata-se antes da experiência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tendência real<br />

57 «(...) la volonté en quelque sens peut sembler infinie, pour ce que nous n’apercevons rien qui puísse<br />

être objet <strong>de</strong> quelque autre volonté, même <strong>de</strong> cette immense qui est en Dieu, à quoi la nôtre ne puisse<br />

aussi s’étendre(...)». (DESCARTES, Principes, AT IX-2, Première Partie, p. 40, art. 35). (Tradução livre<br />

nossa).<br />

58 “Je suis une chose imparfaite, incomplète, et dépendant d’autrui, qui tend et qui aspire sans cesse à<br />

quelque chose <strong>de</strong> meilleur et <strong>de</strong> plus grand que je ne suis (...).» (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 41).<br />

(Tradução livre nossa.)<br />

59 Embora, segundo Descartes, a abrangência da vonta<strong>de</strong> seja superior à do intelecto, ela não po<strong>de</strong><br />

aplicar-se a algo que lhe seja totalmente <strong>de</strong>sconhecido, como confessa o próprio Descartes: “Et ainsi<br />

j’avoue bien que nous ne voulons rien dont nous ne concevions en quelque façon quelque chose<br />

[...]”(DESCARTES, Réponses aux cinquièmes objections - Des choses qui ont été objectées contre la<br />

quatrième méditation, in Oeuvres Philosophiques, Tomo II, 1967, p. 823).[E assim confesso que nós não<br />

<strong>de</strong>sejamos nada do qual <strong>de</strong> certo modo não concebamos alg<strong>uma</strong> coisa.] (Tradução livre nossa). Ora, há<br />

muitas coisas que nos são totalmente <strong>de</strong>sconhecidas, como reconhece muitas vezes nosso filósofo.<br />

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