07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

permanência do pensamento, 83 como o próprio Descartes afirma nas Meditações: “eu<br />

sou eu existo, mas por quanto tempo Durante o tempo em que perdurar o<br />

pensamento.” 84<br />

O ponto central <strong>de</strong>sse argumento po<strong>de</strong> ser resumido na pergunta: qual seria a<br />

causa da existência da res cogitans que é finita e possui a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>, sem<br />

prejudicar o princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> O texto das Meditações, como lhe é peculiar,<br />

subdivi<strong>de</strong>-a em outras perguntas que, por <strong>sua</strong> vez, induzem a novas e assim<br />

sucessivamente. A seguir, <strong>de</strong>stacamos duas questões consi<strong>de</strong>radas importantes <strong>para</strong> o<br />

objetivo <strong>de</strong> nosso estudo.<br />

Primeira pergunta: Não seria a res cogitans a causa <strong>de</strong> <strong>sua</strong> própria existência<br />

Os Princípios respon<strong>de</strong>m que a res cogitans, que possui a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>, não<br />

po<strong>de</strong> ser a causa <strong>de</strong> <strong>sua</strong> própria existência. Pois, a res cogitans duvida (a dúvida, como<br />

falta, é a marca da imperfeição) característica do finito. Com efeito, se a res cogitans<br />

tivesse capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir algo infinitamente perfeito, conforme a <strong>sua</strong> própria i<strong>de</strong>ia,<br />

teria dado a si mesma <strong>uma</strong> existência perfeita e infinita. 85<br />

Em outras palavras, se a res cogitans tivesse o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se autocausar (fazer o<br />

mais), teria ainda mais facilida<strong>de</strong> em dar a si mesma os atributos (fazer o menos) e,<br />

<strong>de</strong>ssa forma, ter-lhe-ia dado todos os atributos <strong>de</strong> que tem i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> forma infinita. 86<br />

83 “A novida<strong>de</strong> do argumento po<strong>de</strong> contribuir <strong>para</strong> a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter no tempo a per<strong>sua</strong>são que<br />

<strong>de</strong>veria ser produzida no <strong>de</strong>correr da <strong>de</strong>monstração” (SCRIBANO, Guia <strong>para</strong> leitura das Meditações<br />

metafísicas, 2007, p. 93.)<br />

84 Alguns estudiosos <strong>de</strong> Descartes, como Georges Pascal, John Cottingham, Jacques Maritain e Octave<br />

Hamelin afirmam que a segunda prova é apenas <strong>uma</strong> variação da primeira (JESUS, A questão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na<br />

filosofia <strong>de</strong> Descartes, 1997, p. 76, nota 186). Entretanto, quando observamos que a segunda prova ao<br />

invés <strong>de</strong> buscar a causa do conteúdo da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>, como acontece na primeira prova, procura a<br />

causa da existência da res cogitans que possui a i<strong>de</strong>ia do <strong>infinito</strong>, não po<strong>de</strong>mos concordar tão facilmente<br />

com aqueles estudiosos.<br />

85 “(...) parce qu’il est évi<strong>de</strong>nt que ce qui connaît quelque chose <strong>de</strong> plus parfait que soi ne s’est point<br />

donné l’être, à cause que par même moyen Il se serait donné toutes les perfections dont Il aurait eu<br />

connaissance (...).” (DESCARTES, Principes, AT IX-2, Première Partie, p. 34, art.20). [(...) porque é evi<strong>de</strong>nte<br />

que aquele que conhece algo mais perfeito que ele mesmo não se <strong>de</strong>u o ser, porque do mesmo modo<br />

ele teria se dado todas as perfeições das quais ele tivesse conhecimento (...)]. (Tradução livre nossa).<br />

86 “(...) si j’étais l’auteur <strong>de</strong> ma naissance et <strong>de</strong> mon existence, je ne me serais pas privé au moins <strong>de</strong>s<br />

choses qui sont <strong>de</strong> plus facile acquisition, à savoir, <strong>de</strong> beaucoup <strong>de</strong> connaissances dont ma nature est<br />

dénuée; je ne me serais pas privé non plus d’aucune <strong>de</strong>s choses qui sont contenues dans l’idée que je<br />

conçois <strong>de</strong> Dieu, parce qu’il n’y en a aucune qui me semble <strong>de</strong> plus difficile acquisition(...)” (DESCARTES,<br />

Meditations, AT IX-1, p.38). [(...) se eu fosse o autor <strong>de</strong> meu nascimento e <strong>de</strong> minha existência, não me<br />

49

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!