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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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<strong>de</strong>ve enquadrar-se na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sua essência, que funda a Sua incompreensibilida<strong>de</strong><br />

e, enquanto perfeita, a inclui na noção <strong>de</strong> perfeição e, assim, limita o Seu alcance.<br />

Embora a inteligência h<strong>uma</strong>na não possa perscrutar os fins <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em Sua ação<br />

criadora, po<strong>de</strong> saber que Ele age em vista <strong>de</strong> fins e que esses fins são bons, já que Ele é<br />

a s<strong>uma</strong> perfeição.<br />

3.2- O <strong>infinito</strong> no eu pensante: vonta<strong>de</strong> e inteligência<br />

Como vimos, Descartes afirma que a infinitu<strong>de</strong> propriamente dita é algo<br />

exclusivo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. 53 Não obstante essas negações enfáticas <strong>de</strong> qualquer outro <strong>infinito</strong>,<br />

além <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, aliadas à constante repetição do caráter finito do ser h<strong>uma</strong>no,<br />

verificamos, com surpresa, que Descartes atribui infinitu<strong>de</strong> à vonta<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na,<br />

chegando a <strong>de</strong>clará-la expressamente “infinita”: “E é principalmente por causa <strong>de</strong>sta<br />

vonta<strong>de</strong> infinita que existe em nós que se po<strong>de</strong> dizer que ele nos criou à <strong>sua</strong> imagem”. 54<br />

Nas passagens <strong>para</strong>lelas <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s obras principais, Descartes é mais matizado,<br />

falando <strong>de</strong> “vonta<strong>de</strong> infinita em certo sentido”. 55 Para esclarecer a questão, convém<br />

distinguir três aspectos da ilimitação da vonta<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na, segundo Descartes. 56<br />

No primeiro caso, trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> infinitu<strong>de</strong> extensiva, enquanto abrangência<br />

infinita da vonta<strong>de</strong>, aberta, em princípio, a todos os objetos possíveis, sem qualquer<br />

limite. Com efeito, não há nada <strong>de</strong> positivo que não possa ser <strong>de</strong>sejado pela vonta<strong>de</strong>. É<br />

53 “A proprement parler, les termes d’infini et d’infinité ne conviennent qu’à Dieu selon Descartes »<br />

(GABAUDE, Liberté et raison, La liberté cartésienne et sa réfraction chez Spinoza et chez LeibnizI, 1970,<br />

p. 329).[Propriamente falando, os termos <strong>infinito</strong> e infinitu<strong>de</strong> não convêm senão a <strong>Deus</strong>, segundo<br />

Descartes].(Tradução livre nossa.)<br />

54 “Et c`est principalement à cause <strong>de</strong> cette volonté infinie qui est en nous qu`on peut dire qu`il nous a<br />

créés à son image” (Lettre a Mersenne, 25 Décembre 1639, AT II, p.628, linhas 7-9). (Tradução livre<br />

nossa.)<br />

55 Por exemplo: “Voluntas vero infinita quodammodo dici potest [...]” (DESCARTES, Principiorum , AT VIII-<br />

1,Pars Prima, p. 18, art. 35, linha 12).Veja também: “(...) au lieu que la volonté en quelque sens peut<br />

sembler infinie, parce que nous n’apercevons rien qui puisse être l’objet <strong>de</strong> quelque autre volonté,<br />

même <strong>de</strong> cette immense qui est en Dieu, à quoi la nôtre ne puisse aussi s’étendre» [(...) enquanto a<br />

vonta<strong>de</strong> em certo sentido po<strong>de</strong> parecer infinita porque não percebemos nada que possa ser objeto <strong>de</strong><br />

alg<strong>uma</strong> outra vonta<strong>de</strong>, mesmo <strong>de</strong>sta imensa vonta<strong>de</strong> que existe em <strong>Deus</strong>, ao qual a nossa não possa<br />

também se esten<strong>de</strong>r]. (DESCARTES, Principes, in Oeuvres Philosophiques, 1973, Tomo III, art. 35 p. 112).<br />

Voltaremos mais adiante a essa questão.<br />

56 Cf.GUEROULT, Descartes selon l’ordre <strong>de</strong>s raisons, livro I: L’âme et Dieu, 1975, p. 324.<br />

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