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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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É o que explica em outros termos Scribano quando observa que a<br />

autocausalida<strong>de</strong> - que é excluída <strong>para</strong> a res cogitans - é utilizada <strong>de</strong> forma “invertida”<br />

no caso <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> 98 Ou seja, como a res cogitans não tem todas as perfeições <strong>de</strong> que tem<br />

i<strong>de</strong>ia, ela não po<strong>de</strong> ser causa <strong>de</strong> si mesma. <strong>Deus</strong>, porém, como não é causado por outro,<br />

po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> causa sui, justamente porque - e nisso consiste a “inversão” - tem<br />

todas as perfeições <strong>de</strong> que tem i<strong>de</strong>ia.<br />

Por isso mesmo per<strong>de</strong> o sentido a objeção feita anteriormente porque fundada na<br />

má interpretação da tese da causa sui divina: se <strong>Deus</strong> é causa <strong>de</strong> Si mesmo, <strong>Deus</strong>, então,<br />

prece<strong>de</strong>ria a Sua própria existência A causalida<strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> exerce diante <strong>de</strong> Sua<br />

existência é formal e não eficiente. Isso significa que é da própria essência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que<br />

se tira a Sua existência, assim como da natureza do triângulo se inferem <strong>sua</strong>s<br />

proprieda<strong>de</strong>s essenciais.<br />

É por isso que a segunda prova cartesiana da existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não seria<br />

plenamente conclusiva sem a terceira. É o que mostraremos a seguir, mais<br />

<strong>de</strong>talhadamente, quando apresentaremos a terceira prova, a partir da qual Descartes<br />

preten<strong>de</strong> provar a existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> a partir da análise <strong>de</strong> Sua essência.<br />

4.4 - A terceira prova e a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong><br />

Esta prova é também chamada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Kant, <strong>de</strong> prova a priori, porque<br />

diferentemente das outras, a i<strong>de</strong>ia não assume a posição <strong>de</strong> efeito. É bom esclarecer que<br />

o termo a priori, como bem observa Cottingham, não foi unânime na história da<br />

filosofia. Para Kant, a priori significa, fundamentalmente, o contraste com a<br />

experiência; já <strong>para</strong> Tomás <strong>de</strong> Aquino, trata-se da relação “da causa ao efeito”. Apesar<br />

da especificida<strong>de</strong> conceitual adquirida em cada época, <strong>para</strong> fins <strong>de</strong> nosso estudo, não há<br />

divergência entre a expressão <strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong> Aquino e a <strong>de</strong> Kant, <strong>uma</strong> vez que a<br />

convergência assentaria no fato <strong>de</strong> que a prova é feita sem o auxílio dos efeitos<br />

98 “(...) como não tem todas as perfeições <strong>de</strong> que tem i<strong>de</strong>ia, o eu não po<strong>de</strong> ter dado o ser a si mesmo”.<br />

Agora, a inversão na leitura <strong>de</strong> Scribano: “como a causa primeira é causa do próprio ser, terá dado a si<br />

mesma também todas as perfeições <strong>de</strong> que tem i<strong>de</strong>ia, e, portanto, será <strong>Deus</strong>” (SCRIBANO, Guia <strong>para</strong><br />

leitura das Meditações Metafísicas <strong>de</strong> Descartes, 2007, p. 96-97).<br />

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