O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
h<strong>uma</strong>no, E por quê Justamente porque o próprio do ser h<strong>uma</strong>no, o que o distingue dos<br />
outros animais, é o pensar, ou seja, como vimos anteriormente, a consciência em sentido<br />
estrito. Trata-se da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre si mesmo e, assim, <strong>de</strong> abrir-se<br />
universalmente a qualquer experiência. Feuerbach reconhece, assim, com toda a<br />
tradição metafísica do Oci<strong>de</strong>nte, que o ser h<strong>uma</strong>no é capaz <strong>de</strong> ultrapassar qualquer<br />
conhecimento particular na <strong>sua</strong> pergunta e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber cada vez mais. Desse modo,<br />
<strong>sua</strong> abertura à realida<strong>de</strong> não tem, em princípio, limite algum. Ao experimentar esta<br />
transcendência ilimitada, própria <strong>de</strong> <strong>sua</strong> inteligência e <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo, ele se enten<strong>de</strong>,<br />
palavras do próprio Feuerbach, como “consciência do <strong>infinito</strong>.” 161 Siena é muito claro<br />
quando afirma que, <strong>para</strong> Feuerbach, “a consciência do <strong>infinito</strong> nada mais é que a<br />
consciência da infinitu<strong>de</strong> da própria consciência.” 162 Essas palavras <strong>de</strong> Siena significam<br />
que, na consciência do <strong>infinito</strong>, o ser h<strong>uma</strong>no objetiva a <strong>sua</strong> própria essência, que tem<br />
por natureza a infinitu<strong>de</strong>.<br />
Ora, essa constatação é o que permite a Feuerbach explicar a natureza da<br />
religião. De fato, é perfeitamente plausível i<strong>de</strong>ntificar a religião com esta “consciência<br />
do <strong>infinito</strong>.” É neste ponto, porém, que emerge a intuição original e <strong>de</strong>cisiva <strong>de</strong><br />
Feuerbach acerca do fenômeno religioso. Trata-se da “(...) consciência que o homem<br />
tem da <strong>sua</strong> essência não finita e limitada, mas infinita.” 163 Em outras palavras: “(...) o<br />
ser <strong>infinito</strong> nada mais é do que <strong>uma</strong> expressão, um fenômeno, <strong>uma</strong> revelação ou<br />
objetivação da própria essência ilimitada do homem.” 164<br />
Todavia, <strong>para</strong> o homem religioso este caráter <strong>infinito</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong> própria essência<br />
permanece oculto. Ele transpõe esta prerrogativa ímpar <strong>de</strong> <strong>sua</strong> própria autoconsciência,<br />
ou seja, a <strong>sua</strong> verda<strong>de</strong>ira essência, <strong>para</strong> <strong>uma</strong> entida<strong>de</strong> distinta e superior a ele, com a<br />
qual estabelece <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência radical. Feuerbach sempre lembra que o<br />
indivíduo que tem a consciência <strong>de</strong> infinitu<strong>de</strong> é, ele mesmo, finito.<br />
A oposição que ele vive então entre <strong>sua</strong> realida<strong>de</strong> finita e o <strong>infinito</strong> divino não é<br />
senão, na realida<strong>de</strong>, a oposição entre o indivíduo e a espécie ou gênero h<strong>uma</strong>no. A<br />
161 FEUERBACH, EC, 2007, p.36.<br />
162 “La coscienza <strong>de</strong>ll’<strong>infinito</strong> null’altro è che la coscienza <strong>de</strong>ll’infinità <strong>de</strong>lla coscienza stessa” (SIENA,<br />
Finitismo ed infinitismo nel pensiero di Feuerbach, 2001, p. 181).(Tradução livre nossa).<br />
163 FEUERBACH, EC, 2007, p.36.<br />
164 FEUERBACH, EC, 2007, p. 277.<br />
80