07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> nenh<strong>uma</strong> outra mais ampla e mais extensa: <strong>de</strong> forma que é ela principalmente<br />

que me faz conhecer que eu porto em mim a imagem e a semelhança <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.” 63<br />

Esta interpretação não é aceita por Gabau<strong>de</strong> e outros, que atribuem o caráter<br />

quase-<strong>infinito</strong> da vonta<strong>de</strong>, segundo Descartes, ao conjunto <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s características,<br />

insistindo, sobretudo, no dinamismo <strong>de</strong>sta faculda<strong>de</strong> que ten<strong>de</strong> <strong>para</strong> o <strong>infinito</strong> divino<br />

porque tem em si mesma a marca <strong>de</strong>ssa infinitu<strong>de</strong>. 64 Porque essa marca, que constitui a<br />

semelhança do ser h<strong>uma</strong>no com <strong>Deus</strong>, é a marca do <strong>infinito</strong> ausente, ela constitui a<br />

vonta<strong>de</strong> como <strong>de</strong>sejo <strong>infinito</strong> do <strong>infinito</strong>. 65<br />

Descartes contrapõe, várias vezes, a infinitu<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong> à finitu<strong>de</strong> ou limitação<br />

da inteligência h<strong>uma</strong>na. Entretanto, essas passagens <strong>de</strong>vem ser confrontadas com outras<br />

que falam explicitamente da ilimitação da mesma inteligência. A contraposição<br />

finito/<strong>infinito</strong> entre inteligência e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve, portanto, ser entendida apenas como a<br />

maior amplitu<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong>, tese mantida constantemente, isso sim, por Descartes. Na<br />

63 “Il n’y a que la seule volonté, que j’expérimente en moi être si gran<strong>de</strong>, que je ne conçois point l’idée<br />

d’aucune autre plus ample et plus étendue: en sorte que c’est elle principalement qui me fait connaître<br />

que je porte l’image et la ressemblance <strong>de</strong> Dieu» (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p.45).<br />

64 “ (…) ma volonté est l’image principale <strong>de</strong> Dieu en moi (...)» (GABAUDE, Liberté et Raison, La liberté<br />

cartésienne et sa réfraction chez Spinoza et chez Leibnizl, 1970, p.329). [(...) minha vonta<strong>de</strong> é a imagem<br />

principal <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em mim (...). (Tradução livre nossa). Ou ainda «or le cogito <strong>de</strong> Decartes n’était pas<br />

puremente noétique puisqu’il marquait une aspiration <strong>de</strong> notre vonlonté quasi-infinie vers le Parfait»<br />

(GABAUDE, Liberté et raison, vol. I, 1970, p.331). [ora o cogito <strong>de</strong> Descartes não é puramente noético<br />

<strong>uma</strong> vez que ele marca <strong>uma</strong> aspiração <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong> quase infinita ao Perfeito]. (Tradução livre<br />

nossa).<br />

65 Esta i<strong>de</strong>ia é <strong>de</strong>senvolvida sobretudo por Jean-Baptiste Jeangène VILMER no artigo “Descartes:<br />

l`infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma volonté ou comment Dieu m`a fait à son image”, Revue <strong>de</strong>s Sciences Philosophiques<br />

et Théologiques, Tomo 92, n.2, 2008, p.287-312. Destacamos a seguir alguns trechos que consi<strong>de</strong>ramos<br />

mais importantes <strong>para</strong> nossa reflexão:“On sait d’emblée que l’infini est une visée du fait <strong>de</strong> ne pas<br />

pouvoir être objet (et il n’est pas objet du fait <strong>de</strong> n’être pas fini). Aussi l’idée <strong>de</strong> l’infini ne parvient-elle<br />

pas à l’infini, qui ne reste jamais qu’une fin, précisément du fait <strong>de</strong> n’être jamais finie».[Sabe-se <strong>de</strong><br />

imediato que o <strong>infinito</strong> é um ponto <strong>de</strong> mira pelo fato <strong>de</strong> não ser objeto (e ele não é objeto pelo fato <strong>de</strong><br />

não ser finito). Também a i<strong>de</strong>ia do <strong>infinito</strong> não chega ao <strong>infinito</strong>, que permanece sempre apenas um fim,<br />

precisamente pelo fato <strong>de</strong> nunca ser finito]. (Tradução livre nossa). «Et ce désir <strong>de</strong> l’infini, dans une<br />

perspective naturellement anthropocentriste, est plutôt un désir d’être l’infini, c’est-à-dire d’être infini ».<br />

[E este <strong>de</strong>sejo do <strong>infinito</strong>, em <strong>uma</strong> perspectiva naturalmente antropocêntrica, é mais um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser o<br />

<strong>infinito</strong>, isto é <strong>de</strong> ser <strong>infinito</strong>]”. (Tradução livre nossa). «(...) en vertu <strong>de</strong> l’accroissement infini qui propose<br />

à l’homme <strong>de</strong> tendre vers l’infini qu’il contemple, c’est-à-dire qu’il désire, on peut déjà assurer<br />

l’existence d’une aspiration naturelle <strong>de</strong> l’homme vers l’infini». [(...) em virtu<strong>de</strong> do crescimento <strong>infinito</strong><br />

que propõe ao homem ten<strong>de</strong>r até o <strong>infinito</strong> que ele contempla, isto é, que ele <strong>de</strong>seja, po<strong>de</strong>-se já<br />

assegurar a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> aspiração natural do homem ao <strong>infinito</strong>]. (Tradução livre nossa).<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!