O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
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ser h<strong>uma</strong>no percebe a divinda<strong>de</strong>. Afirmar que existe um <strong>Deus</strong> em si e um <strong>Deus</strong> como<br />
aparece seria colocar o indivíduo h<strong>uma</strong>no acima <strong>de</strong> seu limite, acima <strong>de</strong> <strong>sua</strong> finitu<strong>de</strong> o<br />
que seria um absurdo. 145<br />
Voltemos ao exemplo do pássaro: seria um equívoco se o pássaro dissesse que<br />
<strong>Deus</strong> aparece <strong>para</strong> ele com asas, mas que ele não saberia dizer ao certo se <strong>Deus</strong>, em si, é<br />
alado, <strong>uma</strong> vez que, <strong>Deus</strong> somente aparece <strong>para</strong> ele com asas. Não há outra forma <strong>de</strong> o<br />
pássaro conceber <strong>Deus</strong> a não ser alado. Leiamos agora em Feuerbach, “Quão ridículo<br />
seria se esse pássaro dissesse: <strong>para</strong> mim <strong>Deus</strong> aparece como um pássaro, mas o que ele<br />
é em si eu não sei”. 146<br />
A se<strong>para</strong>ção entre o que é em si e a forma como aparece somente teria sentido<br />
no caso <strong>de</strong> o objeto em questão ser percebido também por outros seres, além do ser<br />
h<strong>uma</strong>no - o que exigiria que tal objeto fosse sensível. A luz, por exemplo, que tem <strong>uma</strong><br />
abrangência universal no mundo, além <strong>de</strong> ser percebida pelos homens, também o é<br />
pelos animais, plantas e matérias inorgânicas. Ela é apreendida, porém, <strong>de</strong> forma<br />
diferente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> quem recebe o seu influxo. Então, é legítimo diferenciar a luz<br />
em si e a forma como ela aparece. O mesmo não vale, porém, do que se chama <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
enquanto percebido pelo ser h<strong>uma</strong>no.<br />
Assim, a Teologia Negativa, 147 enquanto ensina a afirmar <strong>Deus</strong>, negando que ele<br />
seja como é concebido pelas representações h<strong>uma</strong>nas, equivale, na verda<strong>de</strong>, a um<br />
ateísmo que se ignora. O <strong>Deus</strong> que ela mantém não possui a menor consistência lógica.<br />
Pois, se os predicados aplicados a <strong>Deus</strong> são antropomórficos, também o sujeito <strong>de</strong>les<br />
será antropomórfico. Se amor e bonda<strong>de</strong> são <strong>de</strong>terminações h<strong>uma</strong>nas, também a<br />
realida<strong>de</strong> às quais estas qualida<strong>de</strong>s são atribuídas será plenamente h<strong>uma</strong>na. Enfim, o<br />
próprio <strong>Deus</strong>, não passa da projeção <strong>de</strong> pressupostos h<strong>uma</strong>nos infundados.<br />
Feuerbach chega ao mesmo resultado mediante <strong>uma</strong> análise direta da forma <strong>de</strong><br />
predicação dos atributos divinos. Por exemplo, quando diz “<strong>Deus</strong> é (infinitamente)<br />
bom”, o homem religioso atribui a um sujeito, <strong>Deus</strong>, a bonda<strong>de</strong> em grau <strong>infinito</strong>. O<br />
mesmo vale <strong>para</strong> todas as outras qualida<strong>de</strong>s positivas. Mas, na realida<strong>de</strong>, o que acontece<br />
145 FEUERBACH, EC, 2007, p. 46-47.<br />
146 FEUERBACH, EC, 2007, p. 48.<br />
147 A Teologia Negativa consi<strong>de</strong>ra <strong>Deus</strong> acima <strong>de</strong> todos os predicados ou nomes com os quais <strong>Deus</strong> possa<br />
ser <strong>de</strong>signado (ABBAGNANO, Dicionário <strong>de</strong> filosofia, 2000, p.951).<br />
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