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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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comum, mas elevados ao <strong>infinito</strong>. Bonda<strong>de</strong>, sabedoria, po<strong>de</strong>r etc. são efetivamente<br />

qualida<strong>de</strong>s que pertencem ao ser h<strong>uma</strong>no e/ou ao seu mundo. Entretanto, se existe <strong>uma</strong><br />

realida<strong>de</strong> superior, ela não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signada senão atribuindo-lhe, em grau superior,<br />

tudo aquilo que se consi<strong>de</strong>ra positivo na experiência h<strong>uma</strong>na.<br />

Portanto, do fato <strong>de</strong> se utilizarem atributos h<strong>uma</strong>nos <strong>para</strong> falar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, não se<br />

segue necessariamente que este <strong>Deus</strong> seja apenas <strong>uma</strong> projeção h<strong>uma</strong>na. Mesmo se<br />

aceitarmos que os atributos divinos são construções h<strong>uma</strong>nas, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir disso<br />

o ateísmo. Com efeito, não parece que haja <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> entre a<br />

antropologização da religião e o ateísmo, notadamente, o teórico. Pois, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

teórico, o ateísmo está na negação da transcendência; ora, afirmar que os conteúdos da<br />

linguagem religiosa são h<strong>uma</strong>nos e históricos não equivale a negar <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong><br />

transcen<strong>de</strong>nte aos quais eles se aplicam em grau superior e <strong>infinito</strong>, ou seja, não prova a<br />

existência, nem a inexistência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, apenas indica que as <strong>de</strong>terminações religiosas<br />

são retiradas da realida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na.<br />

Feuerbach, contudo, preten<strong>de</strong> inferir <strong>de</strong>sse fato justamente a inexistência <strong>de</strong><br />

<strong>Deus</strong> como realida<strong>de</strong> distinta do ser h<strong>uma</strong>no, a irrealida<strong>de</strong> do sujeito ao qual são<br />

atribuídos tais predicados. Para tanto, ele se refere a <strong>uma</strong> distinção, conhecida já da<br />

teologia cristã, entre “<strong>Deus</strong> em si” e “<strong>Deus</strong> <strong>para</strong> nós”, ou seja, entre o que é dito na<br />

linguagem religiosa (as representações <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>) e a realida<strong>de</strong> à qual são atribuídos tais<br />

predicados. Segundo ele, essa distinção tem um sabor cético e irreligioso, porque com<br />

ela, preten<strong>de</strong>-se apenas encobrir o fato <strong>de</strong> que as proposições a respeito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não<br />

têm nenhum sentido aceitável.<br />

Com efeito, a atribuição <strong>de</strong>sses predicados a um sujeito distinto do ser h<strong>uma</strong>no é<br />

inconsistente, na medida em que este sujeito só po<strong>de</strong> ser conhecido por seus predicados,<br />

que são extraídos da realida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na. Se só conheço o “<strong>Deus</strong> <strong>para</strong> mim”, a afirmação<br />

do “<strong>Deus</strong> em si” é sem fundamento, pois somente se aceitaria afirmar que <strong>Deus</strong> em si é<br />

diferente da forma como ele aparece, se tivéssemos acesso a um <strong>Deus</strong> que não aparece<br />

ou diferente do modo como ele aparece, o que é contraditório e impossível.<br />

A palavra <strong>Deus</strong>, sem ser associada a um predicado, é vazia <strong>de</strong> significado. Por<br />

exemplo, apenas a palavra <strong>Deus</strong> sem o predicado bom (forma como <strong>Deus</strong> aparece) nada<br />

significa. Portanto, é imprópria a pergunta <strong>de</strong> como <strong>Deus</strong> é em si, mas apenas como o<br />

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