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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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Neste caso, não po<strong>de</strong>ríamos propriamente penetrar os fins da ação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas<br />

sim, em virtu<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Sua perfeição, afirmar que Ele age sempre da melhor<br />

maneira <strong>de</strong> acordo com um plano inteligível, <strong>de</strong> modo que, mesmo que ignoremos os<br />

Seus fins, po<strong>de</strong>remos estar certos <strong>de</strong> que são bons.<br />

Mas Descartes, em função <strong>de</strong> <strong>sua</strong> i<strong>de</strong>ia da onipotência divina, segue também<br />

outra pista na análise da noção da infinitu<strong>de</strong> divina e da relação entre perfeição e<br />

incompreensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que ela implica. Com efeito, é possível pensar que não é<br />

o mais perfeito que <strong>de</strong>termina a incompreensibilida<strong>de</strong>, mas, vice-versa, é esta que<br />

<strong>de</strong>termina a perfeição divina. Nesse caso, <strong>Deus</strong> não cria algo porque é o melhor, mas, ao<br />

contrário, a coisa criada é a melhor porque <strong>Deus</strong> a criou assim. 49 Portanto, o perfeito é<br />

resultado da onipotência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />

Ora, segundo essa linha <strong>de</strong> pensamento, baseada na teoria da criação livre das<br />

verda<strong>de</strong>s eternas, a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não garantiria a Sua veracida<strong>de</strong>. Se Ele <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

livremente o que é ou não é bom, sem qualquer parâmetro inteligível, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cretar que<br />

o engano universal <strong>de</strong> nossas faculda<strong>de</strong>s cognitivas seja o melhor, <strong>de</strong> modo que a prova<br />

da existência <strong>de</strong> um <strong>Deus</strong> bom, porque perfeito, na medida em que afirma também a<br />

Sua incompreensibilida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>ria refutar a hipótese do “gênio maligno”.<br />

Portanto, <strong>para</strong> escapar a esta consequência, que poria em xeque todo o sistema<br />

das Meditações, Descartes <strong>de</strong>ve admitir que não basta recorrer à perfeição <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />

concebida como bonda<strong>de</strong> que limita o Seu po<strong>de</strong>r, <strong>para</strong> fundamentar a veracida<strong>de</strong> divina.<br />

É necessário fundamentá-la na perfeição <strong>de</strong> Seu próprio ser, concebido como potência<br />

infinita. Mas, <strong>para</strong> tanto, Ele <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>monstrar a i<strong>de</strong>ntificação em <strong>Deus</strong>, assim<br />

concebido, entre ser, verda<strong>de</strong> e bem, com a exclusão da essência divina <strong>de</strong> qualquer<br />

falsida<strong>de</strong> e mal, em virtu<strong>de</strong> da incompatibilida<strong>de</strong> entre a realida<strong>de</strong> do ser supremo e o<br />

nada.<br />

A bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não precisa limitar a <strong>sua</strong> onipotência, <strong>para</strong> garantir a <strong>sua</strong><br />

veracida<strong>de</strong>, porque a onipotência divina, que constitui propriamente a perfeição <strong>de</strong> Sua<br />

que são consi<strong>de</strong>radas más por não estarem <strong>uma</strong>s em harmonia com as outras, porém mesmo essas são<br />

boas em si, enquanto se ajustam com outras partes” (AGOSTINHO, Confissões, 2002, p. 187-188).<br />

49 (…) Dieu ne l’a pas créée parce qu’elle était la meilleure, mais elle est la meilleure parce que Dieu l’a<br />

créée (GUEROULT, Descartes selon l’ordre <strong>de</strong>s raisons, livro I: L’âme et Dieu, 1975, p. 306). [(...) <strong>Deus</strong> não<br />

a criou ‘a perfeição’ porque ela era a melhor, mas ela é a melhor porque <strong>Deus</strong> a criou]. (Tradução livre<br />

nossa.)<br />

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