O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O outro exemplo afirma que <strong>uma</strong> pedra que nunca existiu só po<strong>de</strong>ria vir a existir<br />
se for criada por <strong>uma</strong> causa que possui formalmente ou <strong>de</strong> modo superior às perfeições<br />
da própria pedra. Essa causa po<strong>de</strong> ser formal - se as características da pedra criada<br />
forem diretamente herdadas da <strong>sua</strong> causa - ou po<strong>de</strong> ser eminente - se a força que a<br />
originou for mais capaz e mais perfeita que a pedra. 18<br />
As consequências da i<strong>de</strong>ia metafísica <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> geraram várias objeções<br />
também na época cartesiana. Como aceitar o princípio da não inferiorida<strong>de</strong> da causa,<br />
afirmava-se, quando entes inorgânicos, e por isso inferiores, como o Sol e a chuva, são<br />
causas da vida, <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> existência consi<strong>de</strong>rada superior à inorgânica Descartes<br />
estava tão certo da verda<strong>de</strong> do princípio que se limitou a respon<strong>de</strong>r às objeções, apenas<br />
dizendo que a dificulda<strong>de</strong> não resultava <strong>de</strong> um erro do princípio, mas estava no nível<br />
empírico, ou seja, do fato <strong>de</strong> não se saber ao certo se o Sol e a chuva são as causas totais<br />
dos seres viventes.<br />
As acusações ao princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> ganham relevo nos nossos dias. A obra<br />
<strong>de</strong> Cottingham, A filosofia <strong>de</strong> Descartes, apresenta-lhe duras críticas, pois, <strong>para</strong><br />
Cottingham, Descartes parece querer <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o princípio à custa <strong>de</strong> torná-lo<br />
trivialmente verda<strong>de</strong>iro. 19 Principalmente <strong>para</strong> o leitor contemporâneo, adverte o<br />
estudioso <strong>de</strong> Descartes, o princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> está aberto a contra-exemplos. Como<br />
aceitá-lo, quando, por exemplo, o elemento químico hélio possui proprieda<strong>de</strong>s não<br />
encontradas no hidrogênio do qual foi extraído Como os biólogos evolucionistas<br />
seriam convencidos <strong>de</strong> que a consciência não emergiu da não-consciência Cottingham,<br />
em outro exemplo bastante peculiar, pergunta: como o pão-<strong>de</strong>-ló po<strong>de</strong> ser macio e<br />
esponjoso, características não encontradas nos ingredientes (farinha, ovos e manteiga)<br />
necessários <strong>para</strong> produzi-lo<br />
18 “(...) la pierre qui n’a point encore été, non seulement ne peut pas maintenant commencer d’être, si<br />
elle n’est produite par une chose qui possè<strong>de</strong> en soi formellement, ou éminemment, tout ce qui entre en<br />
la composition <strong>de</strong> la pierre, c’est-à-dire qui contienne en soi les mêmes choses ou d’autres plus<br />
excellentes que celles qui sont dans la pierre [...]» (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p.32). [(...) a pedra<br />
que ainda não existiu, não somente não po<strong>de</strong> agora começar a existir, se não é produzida por <strong>uma</strong> coisa<br />
que possui em si formal ou eminentemente tudo o que entra na composição da pedra, ou seja, que<br />
contenha em si as mesmas coisas ou outras mais excelentes do que aquelas que estão na pedra].<br />
(Tradução livre nossa).<br />
19 COTTINGHAM, A filosofia <strong>de</strong> Descartes, 1986, p. 77.<br />
24