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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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Portanto, o seu ateísmo não é <strong>de</strong> natureza teórica, como o que predominou<br />

anteriormente no século XVIII, 158 mas tem um sentido antropológico, existencial. Na<br />

verda<strong>de</strong>, trata-se menos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> opção pessoal do que <strong>de</strong> <strong>uma</strong> constatação da realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu tempo, caracterizado já pela “morte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>”, como iria revelar Nietzsche. Nas<br />

palavras <strong>de</strong> Henri Arvon: “O <strong>Deus</strong> vivo fora <strong>de</strong>scartado por <strong>uma</strong> teologia racionalista.<br />

Feuerbach tenta salvar o divino dando-lhe a forma <strong>de</strong> um h<strong>uma</strong>nismo consciente. Ele é<br />

ateu, sem dúvida, mas por excesso <strong>de</strong> religião.” 159<br />

IV. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> como chave <strong>de</strong> leitura da crítica feuerbachiana da<br />

religião<br />

Uma vez explicado o significado da crítica feuerbachiana da religião, temos<br />

condições <strong>de</strong> focalizar o que propriamente nos interessa em seu pensamento, <strong>sua</strong> i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> <strong>infinito</strong> e a relação <strong>de</strong>sta com <strong>sua</strong> negação peculiar da existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. O termo<br />

“<strong>infinito</strong>” já <strong>de</strong>spontou várias vezes ao longo <strong>de</strong> nossa exposição. Trata-se agora <strong>de</strong><br />

tematizar o seu significado no pensamento <strong>de</strong> Feuerbach. Na verda<strong>de</strong>, como se verá, a<br />

atenção que daremos à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> em <strong>sua</strong> filosofia não é artificial ou arbitrária. Ao<br />

retomarmos todo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>sua</strong> crítica da religião sob esta perspectiva, não<br />

estaremos fazendo mais do que pôr em relevo a <strong>sua</strong> verda<strong>de</strong>ira chave <strong>de</strong> leitura.<br />

4.1. A infinitu<strong>de</strong> da essência h<strong>uma</strong>na<br />

Como nota ele, na abertura do primeiro capítulo <strong>de</strong> <strong>sua</strong> obra <strong>de</strong>cisiva A essência<br />

do Cristianismo, “os animais não têm religião.” 160 A religião é algo específico do ser<br />

158 Como exemplo, o materialismo <strong>de</strong> De La Mettrie (1709 -1751), principalmente no texto L’Homme-<br />

Machine (O Homem Máquina), no qual fica evi<strong>de</strong>nte que a fundamentação do ateísmo se baseia nos<br />

conhecimentos científicos da época e não no caráter antropológico. Esse tipo <strong>de</strong> materialismo distinguese,<br />

por exemplo, da posição <strong>de</strong> Marx, cuja teoria é materialismo histórico e dialético, porque explica as<br />

manifestações do espírito (direito, religião, arte, ciência etc.) a partir das relações econômicas (produção<br />

<strong>de</strong> bens materiais) e não das ciências físicas e químicas.<br />

159 “Le Dieu vivant étant écarté par une théologie rationaliste, Feuerbach essaie <strong>de</strong> sauver le divin en lui<br />

donnant la forme d’un h<strong>uma</strong>nisme conscient. Il est athée, à n’en pas douter, mais par excès <strong>de</strong> religion »<br />

(ARVON, Feuerbach: sa vie, son oeuvre avec un exposé <strong>de</strong> sa philosophie, 1964, p. 35). (Tradução livre<br />

nossa).<br />

160 FEUERBACH, EC, 2007, p. 35.<br />

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