07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

III-<br />

A noção <strong>de</strong> <strong>infinito</strong><br />

Descartes distingue dois significados básicos da noção <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>. 25 Infinito,<br />

<strong>para</strong> ele, significa propriamente o que é absolutamente perfeito, ou seja, aquela<br />

realida<strong>de</strong> que correspon<strong>de</strong> à plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as perfeições, que inclui, em si, o<br />

máximo <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> objetiva. Esta verda<strong>de</strong>ira infinitu<strong>de</strong>,<br />

atribuída a <strong>Deus</strong> e só a <strong>Deus</strong> por Descartes, 26 significa, portanto, perfeição sem limite,<br />

não como um crescimento contínuo e sucessivo da perfeição, mas como plenitu<strong>de</strong><br />

eterna <strong>de</strong> perfeição e <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Trata-se do que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> noção<br />

qualitativa <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>. Ele a recebe da tradição filosófico-teológico cristã, que, do<br />

mesmo modo que o próprio Descartes, aplica-a exclusivamente a <strong>Deus</strong>.<br />

Mas há também nos escritos <strong>de</strong> Descartes outra modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>, que ele<br />

chama propriamente <strong>de</strong> “in<strong>de</strong>finido” ou in<strong>de</strong>terminado. Trata-se, segundo ele, daquilo<br />

que não tem limites sob algum aspecto, não, porém, sob todos os aspectos. 27 Também<br />

25 VILMER apresenta <strong>uma</strong> terceira modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>. Trata-se do <strong>infinito</strong> da vonta<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na.<br />

Abordaremos essa questão em tópico específico, item 3.2. “L’infini, chez Descartes, est un fil directeur<br />

traversant <strong>de</strong> part en part sa philosophie pour lier ses dimensions théorique (l’infinité <strong>de</strong> Dieu),<br />

scientifique (indéfinité du mon<strong>de</strong> physique et mathématique) et pratique (infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma volonté )»<br />

(VILMER, Descartes: L’infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma volonté ou comment Dieu m’a fait à son image, Revue <strong>de</strong>s<br />

Sciences Philosophiques et Théologiques, tomo 92, n. 2, 2008, p. 287-312). [A infinitu<strong>de</strong>, em Descartes, é<br />

um fio condutor que atravessa do princípio ao fim <strong>sua</strong> filosofia <strong>para</strong> ligar <strong>sua</strong>s dimensões teórica (a<br />

infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>), científica (o <strong>infinito</strong> do mundo físico e teórico) e prática (a infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha<br />

vonta<strong>de</strong>)]. (Tradução livre nossa).<br />

26 “Et il n`y a rien que je nomme proprement infini, sinon ce en quoi <strong>de</strong> toutes parts, je ne rencontre<br />

point <strong>de</strong> limites, auquel sens Dieu seul est infini” (DESCARTES, Premières reponses, AT IX-1 p.89). [E não<br />

há nada que eu chame propriamente <strong>infinito</strong>, senão aquilo em que <strong>de</strong> todas as partes eu não encontro<br />

limites, sentido no qual somente <strong>Deus</strong> é <strong>infinito</strong>]. (Tradução livre nossa). Ou ainda, “Car il n`y a que Dieu<br />

seul que je conçoive positivement infini” (DESCARTES, Lettre a Morus, 05 Février 1649, in: Oeuvres<br />

Philosophiques, tomo III, p. 882). [Pois não concebo senão <strong>Deus</strong> como positivamente <strong>infinito</strong>]. (Tradução<br />

livre nossa).<br />

27 “Et, pour nous, en voyant <strong>de</strong>s choses dans lesquelles, selon certains sens, nous ne remarquons point<br />

<strong>de</strong> limites, nous n’assurerons pas pour cela qu’elles soient infinies, mais nous les estimerons seulement<br />

indéfinies» (DESCARTES, Principes, AT IX-2, Première Partie, p. 36, art. 26). [E, <strong>de</strong> nossa parte, vendo<br />

coisas nas quais, segundo certos sentidos, não percebemos limites, nem por isso afirmamos que elas<br />

sejam infinitas, mas as consi<strong>de</strong>ramos somente in<strong>de</strong>finidas]. (Tradução livre nossa). Ou ainda: “Et nous<br />

appellerons ces choses indéfinies plutôt qu’infinies, afin <strong>de</strong> réserver à Dieu seul le nom d`infini; tant à<br />

cause que nous ne remarquons point <strong>de</strong> bornes en ses perfections, comme aussi à cause que nous<br />

sommes très assurés qu`il n`en peut avoir” (DESCARTES, Principes, AT IX-2, Première Partie, p. 37, art.<br />

27). [E chamaremos essas coisas in<strong>de</strong>finidas mais que infinitas, a fim <strong>de</strong> reservar somente a <strong>Deus</strong> o nome<br />

<strong>de</strong> <strong>infinito</strong>; tanto porque não notamos limites em <strong>sua</strong>s perfeições, como também porque nós estamos<br />

muito certos <strong>de</strong> que ele não os po<strong>de</strong> ter]. (Tradução livre nossa).<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!