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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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<strong>de</strong> seus ângulos é igual a 180 graus), assim também na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, necessariamente,<br />

está incluída a existência.<br />

Mas mesmo se concordarmos que há um liame entre o conceito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e o<br />

atributo existência, Descartes ainda precisa mostrar que a relação entre eles não ocorre<br />

somente no pensamento, mas também na realida<strong>de</strong> formal. Porque ainda que a relação<br />

entre o triângulo e <strong>sua</strong>s proprieda<strong>de</strong>s esteja submetida a <strong>uma</strong> necessida<strong>de</strong> lógica, talvez<br />

ocorra que o triângulo exista somente no pensamento. Então, Descartes precisa<br />

i<strong>de</strong>ntificar <strong>uma</strong> peculiarida<strong>de</strong> entre o conceito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e Seu atributo existência que não<br />

se encontra entre o triângulo e <strong>sua</strong>s proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Descartes estava ciente do <strong>problema</strong> e o expressa pela bela metáfora da<br />

montanha que a seguir explicamos, em linhas gerais. Não é possível conceber <strong>uma</strong><br />

montanha sem vale, afirma Descartes, da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> montanha segue-se a existência<br />

<strong>de</strong> vale. Da mesma forma, não se po<strong>de</strong> conceber <strong>Deus</strong> infinitamente perfeito sem a<br />

existência, <strong>uma</strong> das Suas perfeições. Mas po<strong>de</strong> ser que a montanha não exista fora da<br />

mente e que a relação necessária entre montanha e existência <strong>de</strong> vale se imponha<br />

somente no interior do pensamento. 102<br />

Então qual seria mesmo a especificida<strong>de</strong> que faz com que da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> se<br />

<strong>de</strong>duza a Sua existência, sem que ocorra um salto ontológico do pensamento às coisas<br />

existentes fora da mente A análise com<strong>para</strong>tiva com <strong>uma</strong> primeira versão <strong>de</strong>sse<br />

argumento, feita por Anselmo <strong>de</strong> Aosta (1033-1109), arcebispo <strong>de</strong> Cantuária, nos<br />

ajudará a respon<strong>de</strong>r a essa pergunta.<br />

A prova anselmiana parte da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> como um ente do qual não é<br />

possível pensar em nada maior. Ao aceitar essa <strong>de</strong>finição, não se po<strong>de</strong>ria negar a<br />

existência divina, <strong>uma</strong> vez que se incorreria em contradição na própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

<strong>Deus</strong>. Pois, se <strong>Deus</strong> existisse apenas no pensamento, po<strong>de</strong>r-se-ia pensar em um ente que<br />

tivesse todas as características daquele e, além disso, a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir e, então,<br />

102 “(...) comme <strong>de</strong> cela seul que je conçois une montagne avec une vallée, Il ne s’ensuit pas qu’il y ait<br />

aucune montagne dans le mon<strong>de</strong>, <strong>de</strong> même aussi, quoique je conçoive Dieu avec l’existence, Il semble<br />

qu’il ne s’ensuit pas pour cela qu’il y en ait aucun qui existe (...) (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 52-<br />

53. [(...) do simples fato <strong>de</strong> eu conceber <strong>uma</strong> montanha com vale não se segue que haja alg<strong>uma</strong><br />

montanha no mundo, assim também, embora eu conceba <strong>Deus</strong> com a existência, parece que por isso<br />

não se segue que haja algum <strong>Deus</strong> que exista (...)]. (Tradução livre nossa).<br />

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