O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
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Por outro lado, conforme a teoria da criação contínua, a criação e conservação<br />
do ser em <strong>sua</strong> existência diferem somente na razão. Então, em vez <strong>de</strong> perguntar pelas<br />
causas da res cogitans sucessivamente ad infinitum, basta que se pergunte pela <strong>sua</strong><br />
causa no tempo presente. 97<br />
Então, o movimento investigativo cartesiano se <strong>de</strong>sloca <strong>para</strong> a pergunta da causa<br />
da existência da res cogitans no tempo presente. Como a res cogitans não po<strong>de</strong> ser<br />
causa sui (porque, se assim fosse, teria se dado as perfeições <strong>de</strong> que tem i<strong>de</strong>ia),<br />
Descartes <strong>de</strong>duz que a causa só po<strong>de</strong> ser <strong>Deus</strong>. E assim, <strong>Deus</strong> não é somente causa da<br />
existência da res cogitans, mas a conserva em Sua existência.<br />
Entretanto, a universalização do princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> traz um <strong>problema</strong> que<br />
Descartes precisa enfrentar: se é legítimo se perguntar sobre a causa <strong>de</strong> tudo o que<br />
existe, então não seria razoável a pergunta pela causa da existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
A resposta <strong>de</strong> Descartes é clara: <strong>Deus</strong> tem a Sua origem e Sua existência <strong>de</strong> Si<br />
mesmo. Isso não significa que <strong>Deus</strong> é a causa <strong>de</strong> Si mesmo, como ocorre com as causas<br />
das coisas finitas - <strong>uma</strong> vez que a causa eficiente tem <strong>uma</strong> precedência ou anteriorida<strong>de</strong><br />
ontológica em relação ao efeito que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Em <strong>uma</strong> palavra, não se po<strong>de</strong> dizer<br />
que a existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, como o efeito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da causa.<br />
A expressão causa sui, que, aliás, não se encontra na Meditação Terceira, só<br />
po<strong>de</strong> ser empregada <strong>para</strong> <strong>de</strong>finir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Descartes num sentido negativo:<br />
sendo <strong>Deus</strong> infinitamente perfeito, Ele não precisa nem po<strong>de</strong> ser causado por outro ser,<br />
que, neste caso, enquanto Sua causa, seria ainda mais perfeito do que Ele. Ora, isso é<br />
impossível, porque <strong>Deus</strong> é, por <strong>de</strong>finição, a perfeição suprema.<br />
Aliás, a bem do rigor conceitual, é falso dizer que tudo o que existe tem <strong>uma</strong><br />
causa. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> formulação errônea do princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>. O verda<strong>de</strong>iro<br />
sentido do princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> é que tudo o que existe <strong>de</strong> maneira finita e<br />
contingente tem <strong>uma</strong> causa eficiente.<br />
<strong>uma</strong> última causa que virá a ser <strong>Deus</strong>. E é muito manifesto que nisso não po<strong>de</strong> haver progresso ao<br />
<strong>infinito</strong>, visto que aqui não se trata tanto da causa que me produziu outrora como daquela que me<br />
conserva presentemente]. (Tradução livre nossa).<br />
97 “Escapa-se assim à objeção contra a progressão ao <strong>infinito</strong> (...)” (GEORGES PASCAL, Descartes, 1990, p.<br />
66).<br />
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