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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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teria visto outra máquina alhures e estaria apenas copiando. 21 Na verda<strong>de</strong>, a pretensão<br />

<strong>de</strong> Descartes com os exemplos é a <strong>de</strong> universalizar o princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>.<br />

A aplicação do princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> às i<strong>de</strong>ias será ponto muito importante<br />

<strong>para</strong> enten<strong>de</strong>rmos as provas <strong>para</strong> a existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Mas, por enquanto, antes <strong>de</strong><br />

entrarmos nos argumentos propriamente ditos, é bom <strong>de</strong>stacar que, como as realida<strong>de</strong>s<br />

objetivas das i<strong>de</strong>ias são distintas, é possível diferenciá-las em graus <strong>de</strong> ser ou <strong>de</strong><br />

realida<strong>de</strong>.<br />

Isso significa que <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia cujo conteúdo representativo é um aci<strong>de</strong>nte 22 possui<br />

menor grau <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> (ou <strong>de</strong> perfeição) que <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia que representa <strong>uma</strong><br />

substância 23 , na medida em que a substância existe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do aci<strong>de</strong>nte, mas<br />

o aci<strong>de</strong>nte não po<strong>de</strong> subsistir sem a substância 24 . Por outro lado, também entre as i<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> substâncias, <strong>uma</strong>s são mais perfeitas do que outras, isto é, contêm maior conteúdo<br />

objetivo. Assim, por exemplo, a i<strong>de</strong>ia da substância pensante tem <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong><br />

objetiva superior à <strong>de</strong> substância material; e a <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mais realida<strong>de</strong> objetiva do que a<br />

<strong>de</strong> qualquer substância finita.<br />

21 “Car tout ainsi que, lorsqu’on nous dit que quelqu’un a l’idée d’une machine où il y a beaucoup<br />

d’artifice, nous avons raison <strong>de</strong> nous enquérir comment il a pu avoir cette idée, à savoir, s’il a vu quelque<br />

part une telle machine faite par un autre, ou s’il a si bien appris la science <strong>de</strong>s mécaniques, ou s’il est<br />

avantagé d’une telle vivacité d’esprit que <strong>de</strong> lui-même il ait pu l’inventer sans avoir rien vu <strong>de</strong> semblable<br />

ailleurs, à cause que tout l’artifice qui est représenté dans l’idée qu’a cet homme, ainsi que dans un<br />

tableau, doit être en sa première et principale cause(...)” (DESCARTES, Principes, AT IX-2, Premiere Partie,<br />

p. 32, art. 17). [Pois quando nos dizem que alguém tem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> máquina em que há muito <strong>de</strong><br />

artificial ‘no sentido <strong>de</strong> não natural’, temos razão <strong>de</strong> nos perguntar como ele pô<strong>de</strong> ter essa i<strong>de</strong>ia, a saber,<br />

se ele viu em algum lugar tal máquina feita por outro, ou se apren<strong>de</strong>u tão bem a ciência mecânica, ou se<br />

é dotado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tal vivacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espírito que <strong>de</strong>le mesmo tenha podido inventá-la sem ter visto nada<br />

<strong>de</strong> semelhante, porque todo o elemento artificial representado na i<strong>de</strong>ia que esse homem tem, do<br />

mesmo modo que num quadro, <strong>de</strong>ve estar em <strong>sua</strong> primeira e principal causa (...)].” (Tradução livre<br />

nossa.)<br />

22 “(...) os aci<strong>de</strong>ntes, que são <strong>de</strong>terminações não-essenciais da substância” (SILVA, Descartes, a metafísica<br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, 2004, p. 46).<br />

23 O conceito <strong>de</strong> substância em Descartes não é unívoco. Com efeito, somente <strong>Deus</strong> po<strong>de</strong> ser assim<br />

<strong>de</strong>signado <strong>uma</strong> vez que não precisa <strong>de</strong> nada mais <strong>para</strong> subsistir, entretanto, nosso filósofo <strong>de</strong>signa<br />

também a res extensa e res cogitans como substâncias, porque não precisam <strong>de</strong> mais nada <strong>para</strong> existir<br />

do que o concurso ordinário <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />

24 “(...) celles qui me représentent <strong>de</strong>s substances, sont sans doute quelque chose <strong>de</strong> plus, et<br />

contiennent en soi (pour ainsi parler) plus <strong>de</strong> réalité objective, c’est-à-dire participent par représentation<br />

à plus <strong>de</strong> <strong>de</strong>grés d’être ou <strong>de</strong> perfection, que celles qui me représentent seulmente <strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>s ou<br />

acci<strong>de</strong>ntes” (DESCARTES, Meditations, AT IX-I, p. 31-32). [(...) aquelas ‘i<strong>de</strong>ias’ que me representam<br />

substâncias são sem dúvida alg<strong>uma</strong> coisa a mais e contêm em si, por assim dizer, mais realida<strong>de</strong> objetiva,<br />

ou seja, participam por representação em mais graus <strong>de</strong> ser ou <strong>de</strong> perfeição do que as que me<br />

representam somente modos ou aci<strong>de</strong>ntes]. (Tradução livre nossa.)<br />

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