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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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Descartes <strong>de</strong>staca a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no pensamento e pergunta se essa i<strong>de</strong>ia não foi criada<br />

pela substância pensante - <strong>uma</strong> vez que Descartes ainda não sabe se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tem<br />

realida<strong>de</strong> formal - aliás, isso é o que ele preten<strong>de</strong> provar.<br />

Descartes afirma que a dúvida é sinal <strong>de</strong> imperfeição, pois é mais perfeito<br />

conhecer que duvidar. E como a res cogitans duvida (Meditação Primeira) ela é<br />

imperfeita. E como o menos não po<strong>de</strong> gerar o mais (à luz do princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>)<br />

então a res cogitans que é imperfeita (o menos) não po<strong>de</strong> ser a causa do mais (da i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> perfeição). Em <strong>uma</strong> palavra: a res cogitans não po<strong>de</strong> ser a causa da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong><br />

porque essa i<strong>de</strong>ia exce<strong>de</strong>ria a <strong>sua</strong> própria natureza. 76<br />

Descartes insiste em <strong>sua</strong> reflexão: a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> no pensamento não po<strong>de</strong> ter<br />

como causa a res cogitans como também não po<strong>de</strong> ser originada do nada. Mas como a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> contém o grau máximo <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> objetiva, ela exige como causa <strong>uma</strong><br />

realida<strong>de</strong> formal que seja também infinitamente perfeita, isso porque a realida<strong>de</strong> formal<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> coisa é sempre superior à realida<strong>de</strong> objetiva. 77 Na verda<strong>de</strong>, a realida<strong>de</strong> objetiva<br />

da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> pressupõe <strong>uma</strong> <strong>de</strong>cadência em relação à realida<strong>de</strong> formal. Então,<br />

resta a Descartes somente afirmar que a causa da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> é <strong>Deus</strong> e que <strong>Deus</strong><br />

possui realida<strong>de</strong> formal. 78<br />

76 «(...) faisant réflexion sur ce que je doutais, et que, par conséquent, mon être n’était pas tout parfait,<br />

car je voyais clairemente que c’était une plus gran<strong>de</strong> perfection <strong>de</strong> connaître que <strong>de</strong> douter, je m’avisai<br />

<strong>de</strong> chercher d’où j’avais appris à penser à quelque chose <strong>de</strong> plus parfait que je n’étais, et je connus<br />

évi<strong>de</strong>mment que ce <strong>de</strong>vait être <strong>de</strong> quelque nature qui fût en effet plus parfaite”.(DESCARTES, Discours,<br />

AT VI, parte IV, p. 33, linhas 25-31 e p. 34 linha 1).[(...) refletindo sobre o fato <strong>de</strong> que eu duvidava e que,<br />

por conseguinte, meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que era <strong>uma</strong> perfeição maior<br />

conhecer que duvidar, ocorreu-me procurar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu tinha aprendido a pensar em algo mais<br />

perfeito que eu; e soube, com evidência, que <strong>de</strong>via ser <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> natureza que fosse, com efeito, mais<br />

perfeita]. (Tradução livre nossa).<br />

77 “Porque a realida<strong>de</strong> objetiva supõe sempre alg<strong>uma</strong> <strong>de</strong>cadência relativa à realida<strong>de</strong> formal” (ALQUIÉ, A<br />

filosofia <strong>de</strong> Descartes, 1986, p. 85).<br />

78 “(...) si la réalité objective <strong>de</strong> quelqu’une <strong>de</strong> mes idées est telle, que je connaisse clairement qu’elle<br />

n’est point en moi, ni formellement, ni éminemment, et que par conséquent je ne puis pas moi-même<br />

en être la cause, il suit <strong>de</strong> là nécessairement que je ne suis pas seul dans le mon<strong>de</strong>, mais qu’il y a encore<br />

quelque autre chose qui existe, et qui est la cause <strong>de</strong> cette idée (...)” (DESCARTES, Meditations, AT IX-1,<br />

p. 33). [(...) se a realida<strong>de</strong> objetiva <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> <strong>de</strong> minhas i<strong>de</strong>ias é tal que eu conheça claramente que ela<br />

não está em mim nem formal nem eminentemente, e que, por conseguinte, eu mesmo não possa ser a<br />

causa <strong>de</strong>la, daí se segue, necessariamente, que não estou sozinho no mundo, mas que há ainda alg<strong>uma</strong><br />

outra coisa que existe e que é a causa <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia (...).] (Tradução livre nossa).<br />

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