07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

observados sobre <strong>Deus</strong>, mas apenas a partir da análise da natureza ou da essência <strong>de</strong><br />

<strong>Deus</strong>. 99 A terceira prova está na Meditação Quinta e é surpreen<strong>de</strong>ntemente breve.<br />

Vejamos. Descartes inicia <strong>sua</strong> análise diferenciando as i<strong>de</strong>ias que são claras e distintas<br />

e, por isso, são seguras e verda<strong>de</strong>iras, daquelas que são obscuras e falsas e por isso,<br />

enganosas. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> como um ser que unifica todas as perfeições é clara e<br />

distinta e por isso é verda<strong>de</strong>ira. Dessa i<strong>de</strong>ia po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir-se que <strong>Deus</strong> existe, porque a<br />

existência é também <strong>uma</strong> perfeição. A um ser que é soberanamente perfeito não Lhe<br />

po<strong>de</strong> faltar <strong>uma</strong> soberana perfeição: a existência.<br />

Como se pô<strong>de</strong> notar, a estratégia cartesiana consi<strong>de</strong>ra a existência como os<br />

<strong>de</strong>mais atributos e ao mesmo tempo a <strong>de</strong>staca <strong>para</strong> afirmar que <strong>Deus</strong> existe. Entretanto,<br />

não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> refletir, como é difícil aceitar a existência na mesma<br />

qualificação dos <strong>de</strong>mais atributos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, <strong>uma</strong> vez que os outros atributos parecem ser<br />

predicados diferentes da existência porque apresentam <strong>de</strong>terminados conteúdos<br />

inteligíveis e, portanto, caracterizam e <strong>de</strong>finem a essência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Ao contrário da<br />

existência que é, principalmente, <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> os <strong>de</strong>mais atributos. Em outras<br />

palavras, <strong>para</strong> <strong>Deus</strong> ser justo, po<strong>de</strong>roso e bondoso é condição precípua que Ele primeiro<br />

exista. É curioso observar também que Descartes não especificou a existência, como fez<br />

com outros atributos divinos, ao conceituar <strong>Deus</strong>: “Pelo nome <strong>Deus</strong> entendo <strong>uma</strong><br />

substância infinita, eterna, imutável, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, onisciente, onipotente (...).” 100<br />

Não obstante essas consi<strong>de</strong>rações que acabamos <strong>de</strong> expor, Descartes consi<strong>de</strong>ra<br />

que o <strong>problema</strong> <strong>de</strong> não se aceitar a existência como atributo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é resultado da<br />

força do hábito, que, erroneamente, se<strong>para</strong> a essência da existência. 101 Na própria <strong>de</strong>fesa<br />

da terceira prova, Descartes afirma que da mesma forma que, ao se pensar no triângulo,<br />

necessariamente temos que aceitar <strong>sua</strong>s proprieda<strong>de</strong>s (por exemplo, que a soma interna<br />

99 COTTINGHAM, A filosofia <strong>de</strong> Descartes, 1986, p. 86, nota n. 11 do autor.<br />

100 “Par le nom <strong>de</strong> Dieu j’entends une substance infinie, éternelle, immuable, indépendante, toute<br />

connaissante,toute-puissante... ” (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 35 e 36). (Tradução livre nossa).<br />

101 “Car, ayant accoutumé dans toutes les autres choses <strong>de</strong> faire distinction entre l’existence et l’essence,<br />

je me per<strong>sua</strong><strong>de</strong> aisément que l’existence peut être séparée <strong>de</strong> l’essence <strong>de</strong> Dieu, et qu’ainsi on peut<br />

concevoir Dieu comme n’étant pas actuellement” (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 52). [Pois, tendo<br />

me acost<strong>uma</strong>do em todas as outras coisas a fazer distinção entre a existência e a essência, per<strong>sua</strong>do-me<br />

facilmente <strong>de</strong> que a existência po<strong>de</strong> ser se<strong>para</strong>da da essência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e que, assim, po<strong>de</strong>-se conceber<br />

<strong>Deus</strong> como não existindo atualmente]. (Tradução livre nossa).<br />

56

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!