07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

consi<strong>de</strong>ra próprios do <strong>Deus</strong> cristão, como onisciência, onipotência, bonda<strong>de</strong> plena, e<br />

não, por exemplo, as características das figuras <strong>de</strong> Zeus ou <strong>de</strong> Afrodite. Ou seja, como<br />

Descartes, Feuerbach aceita o significado da palavra <strong>Deus</strong> vindo da tradição judaicocristã.<br />

Com efeito, <strong>de</strong> tudo o que foi dito anteriormente fica claro que Feuerbach admite<br />

tanto quanto Descartes a transcendência do espírito h<strong>uma</strong>no, no sentido <strong>de</strong> <strong>uma</strong> abertura<br />

<strong>para</strong> o absolutamente universal e, consequentemente, do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> algo sempre maior.<br />

Ora, este <strong>de</strong>sejo, enquanto tal, ten<strong>de</strong> assintoticamente <strong>para</strong> a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> perfeição,<br />

expressa na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>. Embora Feuerbach, ao contrário <strong>de</strong> Descartes, não<br />

examine <strong>de</strong>tidamente a natureza <strong>de</strong> tal i<strong>de</strong>ia, nem como ela se origina, é claro que,<br />

também <strong>para</strong> ele, ela existe no espírito h<strong>uma</strong>no, que <strong>de</strong> outro modo não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sejála.<br />

De fato, segundo Feuerbach, como se viu, é o contraste entre a finitu<strong>de</strong> do indivíduo<br />

e a gran<strong>de</strong>za da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> que leva o ser h<strong>uma</strong>no a projetá-la ilusoriamente n<strong>uma</strong><br />

realida<strong>de</strong> suprema distinta <strong>de</strong>le mesmo. Embora nem todas as divinda<strong>de</strong>s das diversas<br />

religiões se caracterizem por <strong>uma</strong> perfeição infinita, tais entida<strong>de</strong>s divinas, <strong>de</strong> um modo<br />

geral, não possuem as limitações dos seres h<strong>uma</strong>nos e por isso mesmo, é <strong>de</strong>las que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em última análise, o seu <strong>de</strong>stino feliz ou infeliz.<br />

Assim, tanto <strong>para</strong> Feuerbach como <strong>para</strong> Descartes, há no ser h<strong>uma</strong>no um <strong>de</strong>sejo<br />

natural do <strong>infinito</strong>, que é, aliás, a mola <strong>de</strong> toda a existência h<strong>uma</strong>na, seja num sentido<br />

mais individual, <strong>para</strong> este, seja n<strong>uma</strong> perspectiva mais coletiva e histórica, <strong>para</strong> aquele.<br />

Não se trata, portanto, nem <strong>para</strong> um nem <strong>para</strong> o outro, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo ilusório ou vão. O<br />

engano alienante consiste, segundo Feuerbach, em consi<strong>de</strong>rar a meta <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sejo como<br />

<strong>uma</strong> entida<strong>de</strong> distinta e superior, em vez <strong>de</strong> entendê-la como a realização progressiva do<br />

gênero h<strong>uma</strong>no, ou seja, em projetar n<strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte e divina os valores<br />

que pertencem ao gênero h<strong>uma</strong>no enquanto tal.<br />

Prescindindo, como se disse, da questão da verda<strong>de</strong> ou falsida<strong>de</strong> da posição<br />

<strong>de</strong>sses filósofos a respeito da existência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, restam ainda duas questões a serem<br />

esclarecidas, cada <strong>uma</strong> por um <strong>de</strong>les. Neste caso, não há propriamente com<strong>para</strong>ção, já<br />

que o que se pergunta a cada um <strong>de</strong>les é a explicação <strong>de</strong> algo que está fora das<br />

cogitações do outro. Com efeito, trata-se, por <strong>uma</strong> lado, <strong>de</strong> examinar mais <strong>de</strong> perto a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> que, <strong>para</strong> Descartes, é inata e que Feuerbach não discute, ainda que a<br />

ass<strong>uma</strong> implicitamente, como se viu. Na verda<strong>de</strong>, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>, enquanto inata, é,<br />

também <strong>para</strong> Descartes, implícita na razão h<strong>uma</strong>na. Embora ele não explique<br />

88

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!