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O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

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mesmo alg<strong>uma</strong> coisa distinta <strong>de</strong>le mesmo, quer exista, quer não, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

próprio pensamento. 10<br />

Por outro lado, temos outro gênero <strong>de</strong> pensamentos, aqueles que acrescentam<br />

algo a <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia. Trata-se dos sentimentos, ou atos da vonta<strong>de</strong>, e dos juízos; 11 por<br />

exemplo, se quero algo ou temo algo, este algo é <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia; assim o querer e o temer<br />

pressupõem a i<strong>de</strong>ia e a ela se referem, mas tais atos, em si mesmos, são pensamentos,<br />

enquanto conscientes, mas não são i<strong>de</strong>ias, já que não têm um caráter representativo. O<br />

mesmo vale do juízo como afirmação ou negação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia; por exemplo, esta é<br />

<strong>uma</strong> casa muito pequena. Eu qualifiquei <strong>uma</strong> casa emitindo um juízo: ela é muito<br />

pequena. Portanto, <strong>de</strong> todos os gêneros <strong>de</strong> pensamentos, os mais fundamentais são as<br />

i<strong>de</strong>ias. 12 As representações mentais, ou seja, as i<strong>de</strong>ias, não são consi<strong>de</strong>radas um puro<br />

nada ou um não ente. Na filosofia Cartesiana, elas possuem estatuto ontológico <strong>uma</strong> vez<br />

que seus conteúdos diferem da substância pensante. Pensemos, por exemplo, na figura<br />

mitológica do centauro. Essa representação mental, mesmo que não exista fora da<br />

mente, possui um grau <strong>de</strong> ser no pensamento, ou seja, um grau <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>.<br />

Descartes afirma que as i<strong>de</strong>ias, como tais, sem levar em conta seus conteúdos,<br />

não po<strong>de</strong>m ser falsas, pois não se po<strong>de</strong> negar que exista o ato do pensamento, pelo qual<br />

imagino, por exemplo, <strong>uma</strong> cabra ou <strong>uma</strong> quimera. É por isso, que Rodis-Lewis, <strong>uma</strong><br />

importante intérprete <strong>de</strong> Descartes, afirma que as i<strong>de</strong>ias possuem a mesma veracida<strong>de</strong><br />

do cogito. 13<br />

10 Na verda<strong>de</strong>, Descartes, nestas passagens, não distingue expressamente a noção <strong>de</strong> “representar” e <strong>de</strong><br />

“i<strong>de</strong>ia”, entre os atos <strong>de</strong> pensar e os seus conteúdos.<br />

11 “D’autres, outre cela, ont quelques autres formes: comme, lorsque je veux, que je crains, que j’affirme<br />

ou que je nie [...]” (DESCARTES, Meditations, AT IX-I, p. 29). [Outros ‘pensamentos’ além disso, tem<br />

alg<strong>uma</strong>s outras formas: como, quando eu quero, quando eu temo, quando eu afirmo ou nego (...)].<br />

(Tradução livre nossa.)<br />

12 Há certa ambiguida<strong>de</strong> no uso do termo “i<strong>de</strong>ia” por Descartes. Às vezes, ele parece consi<strong>de</strong>rar i<strong>de</strong>ias<br />

todas as formas <strong>de</strong> pensamento. Neste caso, seria necessário distinguir entre i<strong>de</strong>ias em sentido estrito,<br />

isto é, as representações, e i<strong>de</strong>ias em sentido amplo, os outros tipos <strong>de</strong> pensamento.<br />

13 “Car les idées sont alors pour lui les seules existences, participant à l’indubitabilité du Cogito dont elles<br />

sont les mo<strong>de</strong>s” (RODIS-LEWIS, L’oeuvre <strong>de</strong> Descartes, 1971, p. 277 - 278). [Pois as i<strong>de</strong>ias são, então, <strong>para</strong><br />

ele (Descartes) as únicas existências, participando da indubitabilida<strong>de</strong> do Cogito do qual elas são os<br />

modos]. (Tradução livre nossa).<br />

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