07.01.2015 Views

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

180 graus), ao passo que, nas factícias, encontramos somente o que foi colocado no<br />

momento em que foram forjadas - não se po<strong>de</strong> saber do centauro nada além da união do<br />

corpo <strong>de</strong> cavalo e cabeça <strong>de</strong> homem.<br />

Em condições agora <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a natureza das i<strong>de</strong>ias (adventícias, factícias ou<br />

inatas), as Meditações <strong>de</strong>stacam a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> entre as outras i<strong>de</strong>ias, <strong>para</strong> averiguar a<br />

<strong>sua</strong> causa. Será que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tem como causa o próprio pensamento e por isso é<br />

<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia factícia ou será que a <strong>sua</strong> causa po<strong>de</strong> levar a <strong>de</strong>monstrar a existência divina<br />

Para saber qual é a causa <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia, Descartes se vale <strong>de</strong> um princípio muito<br />

importante em seu arcabouço filosófico, ou seja, ele introduz a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> causa eficiente.<br />

2.3- A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> causa eficiente<br />

Originada pela “luz natural” e, portanto, ostentando a mesma indubitabilida<strong>de</strong> do<br />

cogito, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> pressupõe que o menor ou menos perfeito não po<strong>de</strong> gerar<br />

o maior ou o mais perfeito. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> reformulação do axioma que diz o nada<br />

não produz nada. 15 Cottingham o <strong>de</strong>nominou como o princípio <strong>de</strong> “não inferiorida<strong>de</strong> da<br />

causa”. 16 Na Meditação Terceira, Descartes vale-se <strong>de</strong> dois exemplos <strong>para</strong> melhor<br />

explicá-lo.<br />

Um <strong>de</strong>les afirma que se <strong>uma</strong> coisa estiver privada do calor, este somente po<strong>de</strong>rá<br />

ser produzido por alg<strong>uma</strong> causa maior ou igual ao próprio calor produzido. 17 Ou seja, o<br />

calor não po<strong>de</strong> ser originado do nada. Algo tem que ser a <strong>sua</strong> causa.<br />

15 “Maintenant, c’est une chose manifeste par la lumière naturelle, qu’il doit y avoir pour le moins autant<br />

<strong>de</strong> réalité dans la cause efficiente et totale que dans son effet: car d’où est-ce que l’effet peut tirer sa<br />

réalité, sinon <strong>de</strong> sa cause et comment cette cause la lui pourrait-elle communiquer, si elle ne l’avait en<br />

elle-même» (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 32). [Agora é coisa manifesta pela luz natural que<br />

<strong>de</strong>ve haver pelo menos tanta realida<strong>de</strong> na causa eficiente e total quanto em seu efeito; pois, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é<br />

que o efeito po<strong>de</strong> tirar <strong>sua</strong> realida<strong>de</strong> senão <strong>de</strong> <strong>sua</strong> causa E como esta causa po<strong>de</strong>ria comunicar-lhe tal<br />

realida<strong>de</strong> se não a tivesse em si mesma] (Tradução livre nossa).<br />

16 COTTINGHAM, Dicionário <strong>de</strong> Descartes, 1995, p.28.<br />

17 “(...) et la chaleur ne peut être produite dans um sujet qui en était au<strong>para</strong>vant privé, si ce n’est par une<br />

chose qui soit d’un ordre, d’un <strong>de</strong>gré ou d’un genre au moins aussi parfait que la chaleur, et ainsi <strong>de</strong>s<br />

autres » (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p. 32). [(...) e o calor não po<strong>de</strong> ser produzido num sujeito que<br />

antes estava privado <strong>de</strong>le, a não ser por <strong>uma</strong> coisa que seja <strong>de</strong> <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> um grau ou <strong>de</strong> um gênero<br />

ao menos tão perfeito quanto o calor e assim por diante]. (Tradução livre nossa).<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!