O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
O infinito e sua importância para o problema de Deus, uma ... - FaJe
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
efeitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m somente quanto à <strong>sua</strong> produção - como nos exemplos do arquiteto e<br />
do pai. A criação contínua se refere às causas secundum esse, cujos efeitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
não só da produção como também da continuação do ser - como nos exemplos do Sol e<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Como criar e manter em existência são efetivamente a mesma coisa, essas<br />
ações diferem somente na razão. Com efeito, as mesmas exigências do princípio <strong>de</strong><br />
causalida<strong>de</strong> <strong>para</strong> a criação <strong>de</strong>verão ser observadas no caso da conservação do ser. Então,<br />
a causa que conserva a res cogitans em <strong>sua</strong> existência não po<strong>de</strong> ser menor que aquela<br />
que a criou. Como a res cogitans não é a causa da existência <strong>de</strong> si mesma, conforme<br />
<strong>de</strong>monstramos nos argumentos que respon<strong>de</strong>m à primeira pergunta, ela também não<br />
po<strong>de</strong> ser a causa da conservação <strong>de</strong> <strong>sua</strong> existência.<br />
Então Descartes conclui que a res cogitans se reconhece existente no tempo.<br />
Criar e conservar na existência não são atos distintos, diferem-se somente no<br />
pensamento. Como a res cogitans não tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar-se, porque isso seria contra o<br />
princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, ela não se conserva no tempo.<br />
Reformulando a pergunta central<br />
A partir das perguntas anteriores, temos condições <strong>de</strong> reescrever a pergunta<br />
central: qual seria a causa da existência e permanência da existência da res cogitans<br />
possuidora da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> Descartes terá que respon<strong>de</strong>r sem ferir o princípio <strong>de</strong><br />
causalida<strong>de</strong> e a teoria da criação contínua.<br />
A causa da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong> não po<strong>de</strong> ser <strong>uma</strong> causa finita, pois, se assim for,<br />
inevitavelmente, perguntar-se-ia a causa da causa e assim sucessivamente em um<br />
regresso ao <strong>infinito</strong>; encontrar-se-iam como causas somente entes causados e, portanto,<br />
<strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser explicação ao que se preten<strong>de</strong> explicar, ou seja, a existência da res<br />
cogitans, enquanto finita, possuidora da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>infinito</strong>. 96<br />
96 “Que si elle tient son existence <strong>de</strong> quelque autre cause que <strong>de</strong> soi, on <strong>de</strong>man<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>rechef, par la<br />
même raison, <strong>de</strong> cette secon<strong>de</strong> cause, si elle est par soi, ou par autrui, jusques à ce que <strong>de</strong> <strong>de</strong>grés en<br />
<strong>de</strong>grés on parvienne enfin à une <strong>de</strong>rnière cause qui se trouvera être Dieu. Et il est très manifeste qu’en<br />
cela il ne peut y avoir <strong>de</strong> progrès à l’infini, vu qu’il ne s’agit pas tant ici <strong>de</strong> la cause qui m’a produit<br />
autrefois, comme <strong>de</strong> celle qui me conserve présentement” (DESCARTES, Meditations, AT IX-1, p.40). [Se<br />
ela tem <strong>sua</strong> existência <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> outra causa além <strong>de</strong> si, perguntar-se-á outra vez, pela mesma razão,<br />
<strong>de</strong>ssa segunda causa, se ela existe por si, ou por outrem, até que, <strong>de</strong> grau em grau, chegue-se enfim a<br />
53