Roquete Pinto, o lema da rádio era “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossaterra e pelo progresso do Brasil” 28 ; porém esta cultura era, na verda<strong>de</strong>, aquela <strong>de</strong>fendidapelas elites, assim como nos mostra Fernando Gurgueira, <strong>de</strong>stacando que a programaçãodas emissoras era <strong>de</strong>terminada pelos “(...) valores culturais e educacionais ligados àsestruturas simbólicas das classes dominantes da socieda<strong>de</strong> brasileira, a quem o rádio<strong>de</strong>via sua implantação e manutenção (...).” (Gurgueira apud Costa Garcia, 2004:32). Emais:“(...) as características do veículo nessa etapa inicial não po<strong>de</strong>m ser pensadasapenas na perspectiva “elitização” vs “popularização” <strong>ou</strong> “alta cultura” vs“cultura popular”, mas incluídas num projeto sócio-político mais amplo que,tendo como condutores os setores dominantes, excluía e incorporava, <strong>de</strong>acordo com os interesses <strong>de</strong>sse projeto, <strong>ou</strong>tros setores sociais.”. (p.32)As emissoras vão surgindo aos p<strong>ou</strong>cos: no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a Rádio Socieda<strong>de</strong> doRio <strong>de</strong> Janeiro (1923), Mayrink Veiga (1927) e Nacional (1930), esta última sendoconsi<strong>de</strong>rada como o veículo mais importante <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massas das décadas <strong>de</strong>40 e 50. <strong>Cyro</strong> <strong>Pereira</strong> era seu <strong>ou</strong>vinte assíduo, pois consi<strong>de</strong>rava que lá estavam osmaiores maestros do Brasil 29 .Todo este movimento acontecia principalmente na capital fe<strong>de</strong>ral. Em São Paulo,a Radio Nacional não podia ser sintonizada, como nos explica Reynaldo C. Tavares:“A capital paulista, bafejada pela sorte, talvez pela irregularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suaformação geográfica e pelas montanhas e serras que se interpõem entre amaioria <strong>de</strong> seus bairros, não sofria em nada a concorrência das emissorascariocas, principalmente da PRE-8 Radio Nacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Erauma situação das mais estranhas, a Nacional do Rio, com um canalexclusivo, com transmissores <strong>de</strong> última geração, <strong>de</strong> alta potência, era <strong>ou</strong>vidano Brasil inteiro e até no exterior (pelas suas estações <strong>de</strong> ondas curtas),menos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> suas ondas entravam muito mal. Asemissoras paulistanas ficavam livres da influência <strong>de</strong> suas concorrentes doRio <strong>de</strong> Janeiro, principalmente daquela que era consi<strong>de</strong>rada a melhor e amais completa radiodifusora em todo o país!” (Tavares apud Shimabuco,1998:18)A Rádio Record on<strong>de</strong>, a partir dos anos 50 <strong>Cyro</strong> trabalharia por 23 anos, foicriada em 1928 e, em 1931, comprada por Paulo Machado <strong>de</strong> Carvalho. Fez sua28 Costa Garcia, 2004, pp. 31-32.29 Cf. conversa informal com o autor.22
transmissão oficial <strong>de</strong> fundação em 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931. Segundo nos conta Maria ElisaPeretti Pasqualini (1998):A Record optava então por uma nova orientação artística, do rádio comoveículo <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massas e diferenciada das <strong>ou</strong>tras existentes noRio e em São Paulo. Nesta última cida<strong>de</strong>, só funcionava a Rádio EducadoraPaulista. Todas, entretanto, distinguiam a cultura “elevada” da “inferior” <strong>ou</strong>popular. (p. 331)No caso da música, estava colocado o problema <strong>de</strong> como inserir a chamadamúsica popular <strong>de</strong>ntro da programação das emissoras. Mais uma vez, Pasqualini nosinforma que já no início das suas transmissões:“(...) ela (a Rádio Record) lançava seu „Novíssimo Jazz Symphonico: pelaprimeira vez no Brasil, Músicas Brasileiras em arranjos orchestrais‟,contando com Raul T. Galvão, Martinez Grau, Francisco Gorga e José Torrepara dirigir esse Jazz Sinfônico. A Rádio Record misturava repertório emseus programas, com arranjos <strong>de</strong> músicas populares tratadas orquestralmentecomo eruditas e arranjos populares <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> concertos, sinfonias etrechos <strong>de</strong> óperas.” (p. 332)Dentro <strong>de</strong>sta moldura, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r a solução encontrada por Pixinguinha:unir a orquestra à música popular, produzindo arranjos musicais para as composiçõespopulares. Nas palavras <strong>de</strong> Paulo Aragão (2001):Acontece que esse “produto” (a música popular) não po<strong>de</strong>ria ser apresentadoem seu estado bruto, tal qual era praticado por seus agentes tradicionais emseus meios originais. Parecia imprescindível a transformação da músicapopular em um produto palatável ao gosto <strong>de</strong> um público mais amplo,formador do mercado consumidor. É justamente nessa transformação que oarranjo <strong>de</strong>sponta como ativida<strong>de</strong> essencial para a indústria, enquantopossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “disciplinar” e revestir os sons populares. (p.28).Esta união não foi e não é simples, pois as linguagens musicais eram muitodiferentes; a música erudita orquestral apresenta, entre <strong>ou</strong>tros elementos, umaabordagem mais lírica e a música popular um caráter mais rítmico 30 . Surgiu assim, a30 Esta dificulda<strong>de</strong> permanece até hoje. Nestico (1993) em The Complete Arranger, na seção <strong>de</strong>dicada àscordas faz uma advertência: “One last word of caution: the legitimate string player has spent his lifestudying classical repertoire so please don't ask him to „swing‟.” - Uma última palavra <strong>de</strong> precaução: os23
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Não sei direito, eu passei a usar
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Não, isso se chama transcrição,
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valsas paulistas pra banda. Eu fiz,
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É um contraponto harmônico.E aqui
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Anexo IV - Partitura Digitalizada d