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O Carinhoso de Cyro Pereira: Arranjo ou Composição? - ECA-USP

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(...) Alguns autores consi<strong>de</strong>ram a escrita orquestral <strong>de</strong> Pixinguinhaelaborada, tendo como principais características a utilização <strong>de</strong> técnicascomo: a estrutura tonal complexa para os arranjos, on<strong>de</strong> há modulações nasintroduções e nos solos instrumentais que se remetem à linguagem do choroe, em última instância, à música européia e sua tradição harmônica – muitopresente no próprio choro, inclusive. (p. 29)Por <strong>ou</strong>tro lado, Bessa analisa os problemas encontrados por Pixinguinha ao<strong>de</strong>sbravar esta nova opção musical. Essa permeabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pixinguinha às diversasinfluências musicais <strong>de</strong> seu entorno, sobretudo da música estrangeira, foi alvo <strong>de</strong> durascríticas na época. Ao comentar o lançamento <strong>de</strong> “Gavião Calçudo”, samba <strong>de</strong>Pixinguinha gravado por Benício Barbosa e Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, ocrítico Cruz Cor<strong>de</strong>iro foi categórico:Repetimos para o samba, o que já temos dito em composições anteriores dopopular músico: Pixinguinha parece se <strong>de</strong>ixar influenciarextraordinariamente pelas melodias e rythmos do jazz. Ouçam GaviãoCalçudo. Mais parece um fox-trot que um samba. As suas melodias, os seuscontra-cantos e mesmo quase que o seu rythmo, tudo respira música dos“yankees” (Phono-Arte n. 14, fev. 1929, p. 32) (Cor<strong>de</strong>iro apud Bessa,2005:167).Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>monstrava que a questão do nacionalismo atravessava sua visãosobre como <strong>de</strong>veria ser a música brasileira. Pensava-a livre <strong>de</strong> “estrangeirismos” e fiel auma tradição que ele tomava como “pura”. Entretanto, como analisa Paulo Aragão(2001), já nessa época era possível vislumbrar que o caráter brasileiro, reconhecível atéhoje, caracteriza-se por uma fusão <strong>de</strong> elementos e procedimentos híbridos, legitimadacom a ação do tempo. (p. 111) Mais à frente, complementa:O gran<strong>de</strong> diferencial dos trabalhos <strong>de</strong> Pixinguinha, que justifica opioneirismo a ele atribuído na criação <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> arranjo brasileiro, anosso ver, é a forma como ele organiza os materiais híbridos em seusarranjos. Como dissemos, Pixinguinha utiliza as matrizes culta e industrialsem sufocar as características artesanais e tradicionais das músicas, mesmoquando os arranjos beiram a estética do excesso. Há um constante <strong>de</strong>staqueaos elementos oriundos da matriz artesanal, que convivem equilibradamentecom <strong>ou</strong>tros elementos. Por <strong>ou</strong>tro lado, as matrizes culta e industrialpromovem uma diversida<strong>de</strong> excepcional nos arranjos, trabalhadas a partir dacriativida<strong>de</strong> ímpar <strong>de</strong> Pixinguinha. (I<strong>de</strong>m:112)25

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