<strong>de</strong>sses procedimentos, que mesclam recursos oriundos da chamada música<strong>de</strong> concertos a uma tradição interpretativa e composicional (p.4). 42Esta perspectiva se coaduna com nossas afirmações anteriores <strong>de</strong> que o arranjo namúsica popular se origin<strong>ou</strong> da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “a<strong>de</strong>quá-lo” a um patamar cultural maiselevado <strong>de</strong>fendido pelas elites dos anos 20 e 30 do século passado; nesse sentido, a idéia<strong>de</strong> um produto híbrido, unindo as tradições eruditas e populares, foi alcançado porPixinguinha, o primeiro a conseguir unir os dois universos com sucesso.Já Márcio Luiz Gusmão Coelho (2002), em sua dissertação, apresenta uma <strong>ou</strong>travertente <strong>de</strong> arranjo, mais voltada para o universo específico da canção:(...) organização <strong>de</strong> elementos musicais preestabelecidos que buscam amanifestação do núcleo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da canção, a intensificação dacompatibilida<strong>de</strong> entre expressão e conteúdo e a exacerbação dos processostemáticos, passionais e figurativos que constam do seu núcleo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>virtual. O que não exclui a <strong>de</strong>finição clássica <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> uma obramusical criada para um <strong>de</strong>terminado conjunto, <strong>de</strong> modo que possa serapresentada por um conjunto diferente. (p.15)O campo <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> Coelho é a semiótica e a canção. No entanto, éinteressante notar a idéia <strong>de</strong> que o arranjo <strong>de</strong>ve valorizar a letra, funcionando como umimportante apoio temático, transpondo as palavras para os instrumentos.Hermilson Garcia Nascimento (Budi Garcia), em sua tese, insiste na dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>finição do termo arranjo, e levanta a questão da produção autoral:A conceituação do termo arranjo relacionado a práticas musicais é um<strong>de</strong>safio que exige certo cuidado e clareza <strong>de</strong> posicionamento. Uma dasdificulda<strong>de</strong>s iniciais resi<strong>de</strong> em consi<strong>de</strong>rar as distintas tarefas que aelaboração <strong>de</strong> um arranjo po<strong>de</strong> implicar. Em contextos diversos surgem asnoções <strong>de</strong> orquestração, instrumentação, harmonização, acompanhamento,distribuição <strong>de</strong> vozes, rearmonização, variação, versão, adaptação,transcrição, redução, tradução, cópia, transporte, reelaboração <strong>ou</strong>recomposição, nova r<strong>ou</strong>pagem, entre <strong>ou</strong>tras, associadas à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>arranjar. Examinando os significados atribuídos a esses termos em variadassituações notamos que um mesmo termo po<strong>de</strong> ser empregado em referênciaa realizações distintas, <strong>ou</strong> ainda, que mais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les igualmente abriguemcerta idéia <strong>ou</strong> ação específica. Essa consi<strong>de</strong>rável multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidosfreqüentemente permite uma acomodação do uso aos interesses e motivaçõescircunstanciais, por vezes sujeitos a uma filtragem firmemente arraigada natradição musical européia, sobretudo no que tange a esfera autoral. (2008:22)42 In http://www.hist.puc.cl/iaspm/baires/articulos/almeidabessa.pdf32
Do acima apresentado, percebemos que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> arranjo é bastante ampla,permite muitas interpretações e implica uma gran<strong>de</strong> “multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos”. Nestetexto interessa-nos particularmente a questão da “recomposição” que, em nossaperspectiva, <strong>de</strong>ve ser questionada, como veremos mais adiante.Paulo Aragão, no artigo intitulado Consi<strong>de</strong>rações sobre o Conceito <strong>de</strong> <strong>Arranjo</strong> naMúsica Popular, faz um estudo bastante profundo sobre o tema, salientando a existência<strong>de</strong> uma “certa in<strong>de</strong>finição conceitual e uma imprecisão no discurso, observáveis tantono cotidiano da prática musical quanto na literatura sobre música popular em geral”(2001:94-107). É importante <strong>de</strong>stacar a comparação feita por ele entre as <strong>de</strong>finições dosdicionários New Grove Dictionary e New Grove Dictionary of Jazz, obras tambémreferenciais para os musicólogos e estudiosos:Como vimos (nas <strong>de</strong>finições dos dicionários), no universo clássico arranjoseria “a reelaboração <strong>de</strong> uma composição musical, normalmente para ummeio diferente do original”, enquanto no universo popular teríamos “areelaboração <strong>ou</strong> recomposição <strong>de</strong> uma obra musical <strong>ou</strong> <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>la (como amelodia) para um meio <strong>ou</strong> conjunto diferente do original”. Ora, temos aíconceitos relativamente parecidos. Aparentemente, a diferença maior estariana inclusão, no arranjo popular, do processo <strong>de</strong> “recomposição” alternado <strong>ou</strong>somado ao <strong>de</strong> “reelaboração”, encontrado em ambos os verbetes, além dapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem utilizados no arranjo popular apenas algunselementos do original, enquanto o arranjo clássico lidaria com o original naíntegra. (I<strong>de</strong>m, 98) 43Aqui nos <strong>de</strong>paramos, mais uma vez, com a palavra “recomposição” presente na<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> arranjo, no âmbito da música popular. Aragão <strong>de</strong>senvolve seu raciocínio nosentido <strong>de</strong> discutir a difícil tarefa <strong>de</strong> encontrar um real significado para o termo“material original”, principalmente no âmbito da música popular, ambiente no qual seinsere <strong>Cyro</strong> <strong>Pereira</strong>. Cito novamente Aragão, ao referir-se aos verbetes arranjo, nosuniversos erudito e popular:(...) Porém, as diferenças mais marcantes entre os dois processos parecemestar camufladas pela utilização <strong>de</strong> termos iguais que <strong>de</strong>signam, na verda<strong>de</strong>,significados distintos em cada um dos dois universos musicais. É o caso, porexemplo, do termo “original”, presente em ambos os verbetes, que, <strong>de</strong> fato,43 As <strong>de</strong>finições principais dos dicionários Grove estão contidas na citação, sendo assim <strong>de</strong>snecessáriosua <strong>de</strong>scrição.33
- Page 2 and 3: Banca Examinadora__________________
- Page 4: AgradecimentosAo Prof. Dr. Gil Jard
- Page 7 and 8: 2.3 - Tratamento Melódico e Contra
- Page 9 and 10: A importância da obra de Pereira p
- Page 11 and 12: Capítulo I - Apresentando Cyro Per
- Page 13 and 14: “fui um pianista razoável de mú
- Page 16 and 17: de Música, mas que nunca havia sid
- Page 18 and 19: No final da partitura ele escreve:
- Page 20 and 21: época da formação e iniciação
- Page 22 and 23: Roquete Pinto, o lema da rádio era
- Page 24 and 25: necessidade de um profissional que
- Page 26 and 27: De todo modo, as controvérsias em
- Page 28 and 29: mesma década de 1940. Pereira ouvi
- Page 30 and 31: livremente sua capacidade inventiva
- Page 34 and 35: exprime um significado particular e
- Page 36 and 37: à doutrina a tarefa de delimitaç
- Page 38 and 39: 3 - VariaçãoCabe agora, refletir
- Page 40 and 41: Figura 2 - Tema „A‟ de Garota d
- Page 42 and 43: Em outro verbete do mesmo dicionár
- Page 44 and 45: “citação”: trata-se do iníci
- Page 46 and 47: characteristics may consequently va
- Page 48 and 49: Figura 9 - Trecho inicial da canç
- Page 50 and 51: conceito de que a Fantasia está at
- Page 52 and 53: “Eu fiz o “Carinhoso” em 1917
- Page 54 and 55: Figura 2 - Carinhoso dividido em Se
- Page 56 and 57: finais há uma cadência de dominan
- Page 58 and 59: Figura 9 - O motivo principal de Ca
- Page 60 and 61: 2 - O Carinhoso de Cyro PereiraEsta
- Page 62 and 63: Em algumas situações há o pensam
- Page 64 and 65: epetição do procedimento, Pereira
- Page 66 and 67: semelhante à original, só que uma
- Page 68 and 69: Figura 7 - Harmonia da Seção B2 d
- Page 70 and 71: Primeira Seção da Primeira Parte
- Page 72 and 73: utiliza uma frase nova, classificad
- Page 74 and 75: Terceira Seção da Segunda Parte (
- Page 76 and 77: IntroduçãoNos compassos 1 a 9, o
- Page 78 and 79: Figura 17- linhas melódicas da se
- Page 80 and 81: Esta seção está claramente divid
- Page 83 and 84:
Figura 25 - Linha Melódica de Cyro
- Page 85 and 86:
Figura 30 - Frase de finalização
- Page 87 and 88:
Figura 35 - Melodia da 1ª seção
- Page 89 and 90:
Segunda Seção da Segunda Parte (B
- Page 91 and 92:
Figura 42 - Contracantos da seção
- Page 93 and 94:
2.4 - Texturas OrquestraisUma das c
- Page 95 and 96:
IntroduçãoA Introdução pode ser
- Page 97 and 98:
Terceira Seção da Segunda Parte (
- Page 99 and 100:
em contraste com as tercinas dos de
- Page 101 and 102:
ConclusãoA produção musical de C
- Page 103 and 104:
Bibliografia:Dicionários e Manuais
- Page 105 and 106:
SZENDY, Peter. Escucha. Una histori
- Page 107 and 108:
TEIXEIRA, Maurício de Carvalho. M
- Page 109 and 110:
Anexo I - Entrevista com Cyro Perei
- Page 111 and 112:
E antes tinha uma orquestra que tra
- Page 113 and 114:
morar em Campinas e fiquei na Unica
- Page 115 and 116:
Não sei direito, eu passei a usar
- Page 117 and 118:
Não, isso se chama transcrição,
- Page 119 and 120:
valsas paulistas pra banda. Eu fiz,
- Page 121 and 122:
É um contraponto harmônico.E aqui
- Page 123 and 124:
Anexo II - Fac simile da partitura
- Page 125 and 126:
Anexo III - Fac simile de originais
- Page 127 and 128:
Página final da peça Prelúdio, d
- Page 129:
Anexo IV - Partitura Digitalizada d