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tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

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127<br />

veneno. Mas dava também o antí<strong>do</strong>to. Ensinava, honestamente, que as <strong>do</strong>enças<br />

não têm cura, mas que todas têm tratamento. Este é outro segre<strong>do</strong> <strong>do</strong> médico.<br />

Auxiliar o equilíbrio somático acompanhan<strong>do</strong> a natureza na sua reconstrução<br />

provisória. Nunca reman<strong>do</strong> contra a maré. Saben<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio que toda a<br />

Medicina é o ato gratuito <strong>de</strong> saber diagnosticar. Depois medicar pouco e na hora,<br />

não ser ativista terapêutico. Enten<strong>de</strong>r o <strong>do</strong>ente. Conversar o <strong>do</strong>ente. Saber ouvilo<br />

com paciência. Amparar com o remédio sintomático. Consolar com a<br />

presença, a palavra oportuna, a bendita mentira, o santo perjúrio. Ser bom e<br />

simples. Guardar e repetir a cada instante a melhor coisa que ensinou Miguel<br />

Couto em frase um pouco rebuscada: “Se toda a Medicina não está na bonda<strong>de</strong>,<br />

menos <strong>vale</strong> <strong>de</strong>la separada” 219 .<br />

Nava foi profissional volta<strong>do</strong> para a Clínica e, em 1949, esteve entre os funda<strong>do</strong>res da<br />

Reumatologia no país. Buscan<strong>do</strong> evitar equívocos na leitura das transcrições, lembramos que já<br />

foi visto, em capítulo anterior, que, nos três últimos volumes, Nava usa para si os codinomes <strong>de</strong><br />

Zegão e Egon. Neste capítulo, nosso interesse é a Medicina e, nessa ativida<strong>de</strong>, fizemos o recorte<br />

– “<strong>do</strong>ença”. Procuraremos <strong>de</strong>stacar os aspectos que envolvem essa questão nos escritos <strong>de</strong> Pedro<br />

Nava. Dilene Raimun<strong>do</strong> Nascimento (2005), em As pestes <strong>do</strong> século XX: tuberculose e Aids no<br />

Brasil, uma história comparada, faz observações sobre a <strong>do</strong>ença como objeto da História. Destaca<br />

questões que envolvem os estu<strong>do</strong>s sobre o tema e discute a bibliografia existente. Consi<strong>de</strong>ramos<br />

relevante para esta pesquisa a seguinte observação: “(...) Pois a <strong>do</strong>ença não é tão-somente um<br />

conjunto <strong>de</strong> sintomas que nos leva a procurar um médico, mas também um acontecimento que<br />

ameaça e modifica nossa existência, seja individual ou coletivamente, muitas vezes com graves<br />

consequências” 220 . Essas consi<strong>de</strong>rações nortearão nosso texto. Perceberemos que Pedro Nava, ao<br />

se referir ao <strong>do</strong>ente, está falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ser que está existencialmente ameaça<strong>do</strong>.<br />

Nosso interesse é recortar os textos que dizem respeito às <strong>do</strong>enças e, portanto, à formação<br />

médica <strong>do</strong> autor, às suas ativida<strong>de</strong>s profissionais e ao contexto social que foram palco <strong>de</strong>ssas<br />

questões e o significa<strong>do</strong> das mesmas naqueles momentos. Segun<strong>do</strong> Ana Lúcia Rissoni Santos, no<br />

artigo intitula<strong>do</strong> “O conceito <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença: uma interlocução entre Medicina e Filosofia”: “A<br />

Medicina, por ter o patológico como objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, encerra uma reflexão sobre a vida”. A<br />

autora discute, nesse texto, as posições <strong>de</strong>fendidas por Clau<strong>de</strong> Bernard e Georges Cangilhem.<br />

Cumpre ressaltar que a leitura <strong>de</strong>sse artigo em muito nos aju<strong>do</strong>u no entendimento <strong>de</strong> várias<br />

219 NAVA, Pedro. Galo das trevas: memórias 5. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983. p. 403-404.<br />

220 NASCIMENTO, Dilene Raimun<strong>do</strong>. As pestes <strong>do</strong> século XX: tuberculose e Aids no Brasil, uma história<br />

comparada. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fiocruz, 2005.

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