06.12.2012 Views

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que fora o seu branco e estavam estranhamente <strong>de</strong>svia<strong>do</strong>s, como num<br />

estrabismo; tinha as pálperas inchadas, as narinas inchadas, as maçãs <strong>do</strong> rosto<br />

carmesins e contrastan<strong>do</strong> com a pali<strong>de</strong>z da testa, <strong>do</strong> contorno da boca e <strong>do</strong>s<br />

lábios greta<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> cor azulada 100 .<br />

No Capítulo III, intitula<strong>do</strong> “Avenida Pedro Ivo”, o memorialista <strong>de</strong>ixa a casa <strong>do</strong>s parentes<br />

da Rua Major Ávila e muda-se para a casa <strong>do</strong>s parentes. À noite, <strong>do</strong>rme em casa <strong>de</strong> pessoa<br />

aparentada fazen<strong>do</strong> companhia: “A pobre senhora, só com as filhas menores, não <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>,<br />

todas amontoadas numa cama e tiritan<strong>do</strong> <strong>de</strong> me<strong>do</strong> até que chegasse o dia” 101 . Este arranjo foi<br />

após as mortes e os acontecimentos relaciona<strong>do</strong>s com a gripe Espanhola. Os efeitos sobre o<br />

memorialista estão na primeira página <strong>do</strong> capítulo:<br />

(...) Foi nessa estada em casa da Clara que comecei as faltas <strong>de</strong> sono e insônias<br />

<strong>de</strong> que já <strong>de</strong>i alguma notícia contan<strong>do</strong> minhas noites no internato. Isso se iniciou<br />

mesmo, para <strong>vale</strong>r, <strong>de</strong>pois da morte da Nair – <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à morte da Nair. Eu sentia<br />

<strong>de</strong>la uma falta obscura, como se tivesse si<strong>do</strong> amputa<strong>do</strong> dum pé, duma perna,<br />

dum braço, falta tanto mais pungente quanto seria <strong>de</strong>sproposita<strong>do</strong> chorar como<br />

os outros choravam já que ela não era minha filha, nem sobrinha, nem irmã, nem<br />

prima, nem noiva bem-amada. Mas por não ser nada disso não po<strong>de</strong>ria ser outra<br />

coisa? Um pouco mais? 102<br />

A insônia, que acompanhou o memorialista por toda a vida, aprofun<strong>do</strong>u o seu gosto pela<br />

leitura. Ainda nas noites que passava insone, na casa <strong>de</strong> Clara, Nava <strong>de</strong>ixou observações sobre<br />

livros e leitura:<br />

Sem sono, no claro, procurava o que fazer ler. Foi assim que ergui <strong>de</strong>vagar a<br />

tampa da escrivaninha e <strong>de</strong>scobri aqueles volumes gran<strong>de</strong>s e enca<strong>de</strong>rna<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

escuro. Par<strong>do</strong>? Cor <strong>de</strong> vinho? Abri um corri as capas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. Tinham a<br />

<strong>de</strong>signação genérica <strong>de</strong> O Romance <strong>de</strong> Fon-Fon. Eram dum sujeito chama<strong>do</strong><br />

Miguel Zévaco. Tinham capas berrantes e títulos sugestivos. Os Pardaillan,<br />

Uma Epopeia <strong>de</strong> Amor, Fausta, Fausta Vencida, O Capitan, Triboulet, O Pátio<br />

<strong>do</strong>s Milagres, Buridan, A Ponte <strong>do</strong>s Suspiros. Os Amantes <strong>de</strong> Veneza. Decidi-<br />

100 NAVA, Pedro. Chão <strong>de</strong> ferro: memórias 3. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1976. p. 207-208.<br />

101 Ibid., p. 211.<br />

102 Ibid., p. 211-212.<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!