tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
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135<br />
Anatomia Patológica. Sob sua orientação se formaram vários cientistas. Ele<br />
tentou aliciar-me no princípio e conquistar-me para a Pesquisa e a<br />
Experimentação. Era difícil, pois a essa época eu já era interno <strong>de</strong> Ari Ferreira e<br />
estava molda<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivamente para a Observação e para o exercício da Clínica.<br />
Além disso eu via com olhos suspicazes o apostola<strong>do</strong> dum homem que dizia<br />
horrores da Europa, que achava a latinida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, que não entendia<br />
patavina <strong>de</strong> literatura ou <strong>de</strong> arte. (...) Caso perdi<strong>do</strong>, continuei a admirar a Europa<br />
e a fazer o diagnóstico das <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> estômago sem exame químico <strong>do</strong> suco<br />
gástrico e a julgar perfeitamente das <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> e da vesícula sem fazer os<br />
<strong>do</strong>entes passarem pelo suplício das tubagens duo<strong>de</strong>nais 232 .<br />
Ao ouvirmos a entrevista concedida a Helena Bomeny e René Batista, em 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1983, percebemos que Nava priorizou o contato médico/paciente, mas não negou a gran<strong>de</strong><br />
contribuição da tecnologia para o tratamento das <strong>do</strong>enças. Transcreven<strong>do</strong> fragmentos da<br />
entrevista:<br />
(...) Mas em certo terreno, vamos dizer no terreno cardiológico. O exame clínico<br />
po<strong>de</strong> se tornar absolutamente <strong>de</strong>snecessário. Você toma a pressão arterial<br />
automaticamente, com eletrocardiograma e ecografia, com essa coisa toda...<br />
Você registra os sons <strong>do</strong> coração com uma precisão que o ouvi<strong>do</strong> humano é<br />
incapaz <strong>de</strong> registrar. Antigamente ficava aquela discussão, “mas esse sopro é<br />
sistoico, não é bem sistoico”. Hoje não, hoje sai escrito, sai junto com o<br />
eletrocardiograma, ao mesmo tempo. De mo<strong>do</strong> que você tem aquilo no tempo,<br />
na intensida<strong>de</strong>, na qualida<strong>de</strong>, no som, tu<strong>do</strong> aquilo é registra<strong>do</strong>. (...) De mo<strong>do</strong><br />
que, aliás, essa ânsia <strong>do</strong> médico <strong>de</strong> penetrar o <strong>do</strong>ente com poucos meios levava a<br />
um apuro <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> melhor <strong>do</strong> que hoje e esse apuro <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ter<br />
influência psicológica. Não sei se você sabe, que tem <strong>de</strong> <strong>de</strong>morar mais junto <strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>ente. E o <strong>do</strong>ente, o que ele prefere, o que ele <strong>de</strong>seja principalmente é<br />
conversar. E conversar com o médico. Ele se tranquiliza mais 233 .<br />
Voltan<strong>do</strong> às observações sobre o contato com a Patologia Geral, aí encontramos as i<strong>de</strong>ias<br />
nortea<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> pensamento médico <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> mencionamos a influência francesa na<br />
organização da Medicina brasileira, temos <strong>de</strong> assinalar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propostas que foram<br />
elaboradas na França. As Escolas <strong>de</strong> Montpellier e Paris têm propostas <strong>de</strong> distintos matizes, que<br />
232 NAVA, Pedro. Beira-mar: memórias 4. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1979. p. 317-318.<br />
233 Entrevista concedida a Helena Bomeny e René Batista em 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1983. Este material é inédito, e a<br />
entrevista<strong>do</strong>ra, generosamente, forneceu-nos uma cópia.