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tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Chão <strong>de</strong> ferro: memórias 3 – termina quan<strong>do</strong> o memorialista volta para Belo Horizonte e<br />

ingressa na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, em 1921. Viu-se frente à penosa situação financeira <strong>de</strong> sua<br />

mãe e sentiu necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir um emprego que auxiliasse na manutenção <strong>do</strong> curso. O tio<br />

materno, Antônio Salles, conseguiu uma carta <strong>de</strong> recomendação para ser apresentada ao<br />

Secretário Afonso Pena Júnior, autorida<strong>de</strong> administrativa <strong>de</strong> Minas Gerais. Já havia conheci<strong>do</strong> a<br />

negativa <strong>de</strong> duas cartas dirigidas para autorida<strong>de</strong>s, em que pedia a indicação para um emprego<br />

público. Segun<strong>do</strong> Nava:<br />

131<br />

(...) Numa tonteira ali caí senta<strong>do</strong> diante <strong>do</strong> Secretário Afonso Pena Júnior.<br />

Notei que ele tinha as sobrancelhas muito levantadas no centro o que lhe dava a<br />

expressão tristonha e aplicada que vemos nos flautistas durante a execução.<br />

Fiquei olhan<strong>do</strong> para ele bestifica<strong>do</strong>, trêmulo, ofegante, esperan<strong>do</strong> ser<br />

escorraça<strong>do</strong> como das outras vezes. Ele percebeu minha pertubação e<br />

imediatamente sorriu e teve a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s que é a <strong>de</strong> pôr à vonta<strong>de</strong> os<br />

menores. Fez-me repetir meu nome, disse que conhecera meu Pai no Juiz <strong>de</strong><br />

Fora – era bem seu pai, não era? em casa <strong>de</strong> seu tio Feliciano. Que mocinho –<br />

assim da sua ida<strong>de</strong>, fui várias vezes à casa <strong>de</strong> sua avó para as partidas que o Dr.<br />

Jaguaribe gostava <strong>de</strong> dar. E como vai ele? Agora, <strong>do</strong>utor, está no Jequitinhonha.<br />

Então você quer trabalhar para estudar? Ven<strong>do</strong> que eu estava ainda meio no ar,<br />

Afonso Pena Júnior com a maior paciência voltou à minha família, por ele e ali,<br />

soube que minha avó Maria Luísa e o Conselheiro pai <strong>de</strong>le tinham se batiza<strong>do</strong><br />

no mesmo dia, na mesma igreja, um <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> outro, em Santa Bárbara. Porque<br />

vocês são como nós <strong>de</strong> Santa Bárbara <strong>do</strong> Mato Dentro. Mostrou-se conhece<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> folclore <strong>de</strong> minha gente. Parece que foi com parenta sua, morren<strong>do</strong>, uma que<br />

não ensinava receita <strong>de</strong> seus quindins a ninguém, nem <strong>do</strong>s seus bolos e pudins<br />

que aconteceu aquele caso. Ria agora <strong>de</strong> gosto, contan<strong>do</strong>. As velhas vizinhas<br />

chegan<strong>do</strong> fofas mandan<strong>do</strong> dizer Jesus! irmã, e fazen<strong>do</strong> perguntas. D. Florência,<br />

quantas colheres <strong>de</strong> açúcar? no seu quindim. Duas e meia – arquejava a alma<br />

sem <strong>de</strong>fesa. Diz Jesus! irmã, e no bolo Santa Cecília mistura a calda com o leite<br />

<strong>de</strong> coco ou o leite <strong>de</strong> coco com a calda. Mistura sim mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> frio e aí é<br />

que se torna a esquentar. Passou macete por macete. Eu ria ainda quan<strong>do</strong> o<br />

Secretário voltou ao assunto. Pois então, se você precisa trabalhar para estudar, o<br />

emprego tá garanti<strong>do</strong> 227 .<br />

Este é um aspecto que perpassa pela a socieda<strong>de</strong> brasileira, ou seja, troca <strong>de</strong> favores,<br />

valorização a parentescos, relações sociais, e que também estava presente na vida <strong>de</strong> Pedro Nava.<br />

Em O círio perfeito: memórias 6, o autor narra seu ingresso no Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, no Rio <strong>de</strong><br />

227 NAVA, Pedro. Chão <strong>de</strong> ferro: memórias 3. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1976. p. 345-346.

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