tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
154<br />
Aquelas saídas <strong>de</strong> dia ce<strong>do</strong>, no pino, ao entar<strong>de</strong>cer e noturnas encantavam o<br />
Egon. Primeiro, pela ida aos <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s da patologia que era mister resolver<br />
na hora e que representavam sempre um <strong>de</strong>safio para os que tinham uma<br />
verda<strong>de</strong>ira alma <strong>de</strong> médico, com sua curiosida<strong>de</strong>, interesse, <strong>de</strong>votamento,<br />
solidarieda<strong>de</strong> humana e pieda<strong>de</strong> – simples pena <strong>do</strong> seu semelhante. Segun<strong>do</strong>,<br />
pelo <strong>de</strong>svendamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os Rios-<strong>de</strong>-Janeiro – o milionário, o riquinho, o<br />
remedia<strong>do</strong>, o pobre e o da miséria negra das casas-<strong>de</strong>-cômo<strong>do</strong> e favelas. Dos<br />
palácios <strong>de</strong> Copacabana ao morro, a aflição era a mesma, una e singular – a <strong>do</strong><br />
indivíduo que sofre, está se <strong>de</strong>spencan<strong>do</strong> na morte e que é preciso segurar com<br />
todas as forças 276 .<br />
Ao longo da memorialística naveana, surgem informações sobre linhas conflitantes na<br />
organização da Medicina Científica. Nava sempre foi a<strong>de</strong>pto <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>res da orientação<br />
francesa. Percebe-se a presença, em menor número, <strong>de</strong> segui<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s germânicos e o início da<br />
influência norte-americana. O memorialista viu a profissão como sacerdócio e pertencente a uma<br />
dinastia <strong>de</strong> médicos. Seguin<strong>do</strong> os relatos das Memórias, foi organizada, no Pronto Socorro, a<br />
Enfermaria <strong>de</strong> mulheres e <strong>de</strong> Clínica Médica <strong>de</strong> homens. A seguir, um <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Nava da<br />
época em que trabalhou na Enfermaria <strong>de</strong> mulheres:<br />
(...) Eram poucas <strong>do</strong>entes para cada e bom para elas porque assim eram melhor<br />
observadas, mais bem assistidas, e perfeitamente tratadas. O Eliezer, o<br />
Esmarag<strong>do</strong>, o Egon e o Nava eram médicos <strong>do</strong> interior recentemente instala<strong>do</strong>s<br />
no Rio e que não fizeram má figura (muito antes pelo contrário) perante o chefe<br />
e os companheiros <strong>de</strong> formação carioca como Acilino, saí<strong>do</strong> da escola <strong>de</strong> Miguel<br />
Couto, e Múcio, da <strong>de</strong> Aloysio <strong>de</strong> Castro. Entrosavam-se assim na tradição da<br />
linha <strong>de</strong> centro da clínica médica brasileira – nobilitada por sua saída das mãos<br />
<strong>de</strong> Miguel Couto, Francisco <strong>de</strong> Castro, Torres Homem e <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> nossa<br />
medicina interna: Manuel Francisco <strong>de</strong> Valadão Pimentel, barão <strong>de</strong> Petrópolis.<br />
Essa escola <strong>de</strong> origem nitidamente francesa teve sempre como adversa, outra, a<br />
mais germânica, <strong>de</strong> Rocha Faria, Nuno <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Agenor Porto. A última era<br />
esnobada pela primeira, chamada pelos partidários <strong>de</strong>sta – a linha auxiliar 277 .<br />
Nava foi médico no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1928 a 1983. O perío<strong>do</strong> foi <strong>de</strong> modificações no exercício<br />
da profissão, em seus aspectos específicos (novas terapêuticas), nas relações da mesma com o<br />
276 NAVA, Pedro. O círio perfeito. Memórias 6. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983. p. 289-290.<br />
277 Ibid., p. 297.