tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
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elações pessoais, inserir-se na elite intelectual e médica <strong>do</strong> país. Po<strong>de</strong>mos observar, na obra <strong>de</strong><br />
Nava, o caráter antropofágico da socieda<strong>de</strong> brasileira, notada por Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, em 1928 –<br />
uma socieda<strong>de</strong> que digeriu a Psicanálise e a transformou em um <strong>do</strong>s elementos da cultura nacional<br />
nas décadas posteriores.<br />
Como já visto anteriormente, Pedro Nava nasceu em Juiz <strong>de</strong> Fora no ano <strong>de</strong> 1903.<br />
Repetin<strong>do</strong> o final <strong>do</strong> primeiro parágrafo que inicia a obra Baú <strong>de</strong> ossos: “(...) nas duas direções<br />
apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a minha vida. A direção <strong>de</strong><br />
Milheiros e Mariano Procópio” 137 , observa-se que a Avenida Rio Branco é a principal artéria <strong>de</strong><br />
Juiz <strong>de</strong> Fora – cida<strong>de</strong> mineira, mais próxima <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>do</strong> que da capital Belo Horizonte.<br />
Centro urbano on<strong>de</strong> capitais exce<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> café possibilitaram a industrialização <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />
consumo. Nasceu, assim, a "Manchester Mineira". Na obra Baú <strong>de</strong> ossos: memórias, encontram-<br />
se questões que perpassaram pela socieda<strong>de</strong> brasileira no perío<strong>do</strong>: transição <strong>do</strong> trabalho escravo<br />
para o assalaria<strong>do</strong>, imigração, sanitarismo, industrialização, a alteração <strong>de</strong>sses fatos no cotidiano<br />
e resquícios escravocratas que a<strong>de</strong>ntraram pela República. Destacamos <strong>do</strong> primeiro livro <strong>de</strong><br />
Memórias a reconstituição que Nava faz da trajetória <strong>de</strong> seu pai, exemplar formação <strong>de</strong> um<br />
sanitarista. Marina Maluf, em Ruí<strong>do</strong>s da memória, afirma:<br />
A memória pessoal não é tábula rasa capaz <strong>de</strong> sozinha, com suas próprias forças,<br />
perceber traços e contornos que trariam <strong>de</strong> volta às imagens <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. A<br />
reconstituição individual não é um fato isola<strong>do</strong> e fecha<strong>do</strong> em si mesmo, uma vez<br />
que, para se atingir uma lembrança, não basta reconstituí-la em suas infinitas<br />
partes. Para que uma lembrança possa ser recuperada e reconhecida, é preciso<br />
que essa reconstituição “se opere a partir <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s ou <strong>de</strong> noções comuns que se<br />
encontram tanto no nosso espírito como no <strong>do</strong>s outros”, escreveu Halbwacs 138 .<br />
Na transcrição apresentada, encontramos observações pertinentes a esta parte <strong>de</strong> nossa<br />
pesquisa. Pedro Nava, em entrevista concedida a Helena Bomeny, afirmou: “Inconscientemente<br />
quis continuar com a história <strong>de</strong> meu pai” 139 . O pai <strong>do</strong> autor, que também era médico, José Nava<br />
(1876-1911), morreu aos 35 anos. Na escrita sobre a curta vida <strong>do</strong> pai, Nava <strong>de</strong>svela aspectos da<br />
137 Op. cit., p. 13.<br />
138 MALUF, Marina. Ruí<strong>do</strong>s da memória. São Paulo: Siciliano, 1995. p. 36.<br />
139 Entrevista concedida a Helena Bomeny e René Batista em 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1983. Este material é inédito, e a<br />
entrevista<strong>do</strong>ra, generosamente, forneceu-nos uma cópia.<br />
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