tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
exercício da Medicina 144 . A ação <strong>do</strong> órgão era restrita <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às distâncias, à escassez<br />
populacional, etc. A atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> se limitava à internação <strong>de</strong> <strong>do</strong>entes graves em lazaretos e<br />
enfermarias improvisadas e à internação <strong>de</strong> <strong>do</strong>entes mentais funda<strong>do</strong>s no Rio e em São Paulo<br />
(1852), Recife (1861), Salva<strong>do</strong>r (1874) e Porto Alegre (1889) 145 . A família Nava, instalada no<br />
Rio, continuou bem sucedida financeiramente, construiu novos laços sociais e continuou com<br />
antigos <strong>de</strong> Fortaleza, igualmente migra<strong>do</strong>s para o Rio. Ao convívio da família foi acrescenta<strong>do</strong><br />
um sócio na Casa Comissária que trouxe consequências futuras. O escritor reconstitui possíveis<br />
trajetos <strong>de</strong> seu antepassa<strong>do</strong> e <strong>de</strong> cenários urbanos cariocas. O avô <strong>de</strong> Nava, conforme<br />
informações <strong>do</strong> memorialista, teve dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adaptação ao clima <strong>do</strong> Rio.<br />
O memorialista, sobre o assunto, assim se expressa:<br />
(...) Des<strong>de</strong> o nascimento <strong>de</strong> sua filha mais nova, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1879, meu avô,<br />
que trabalhava mais que nunca, tinha começa<strong>do</strong> a tossir. Só um pouco. E parecia<br />
que o verão, que entrara rijo, era mais violento que o anterior e fazia-o sofrer<br />
mais que dantes. Ele sufocava e queimava ao sol duro da manhã, às labaredas <strong>do</strong><br />
meio-dia, ao bochorno da tar<strong>de</strong> e ao forno insuportável e molha<strong>do</strong> das noites. Só<br />
refrescava um pouco estira<strong>do</strong> hora inteira, na banheira <strong>de</strong> mármore, imensa<br />
como sarcófago etrusco, cheia até a borda da água fria que se amornava ao calor<br />
<strong>de</strong> seu corpo febril. Num dia particularmente quente falhou o seu juízo e ele<br />
chegou em casa mais ce<strong>do</strong>, ar <strong>de</strong>libera<strong>do</strong>, acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> galego porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
uma barra <strong>de</strong> gelo. (...) O Lequinho in<strong>do</strong>, afinal, buscar o Doutor Torres Homem<br />
que entrou arfan<strong>do</strong> – olhou, perguntou, palpou, percutiu, auscultou, jurou ao<br />
<strong>do</strong>ente que não era nada e levou a família para a sala <strong>de</strong> visitas on<strong>de</strong>, com a<br />
franqueza grave que lhe era habitual, pronunciou a sentença <strong>de</strong> morte: “Tísica <strong>de</strong><br />
forma aguda – a que eu chamo galopante. Pobre moço!”. (...) E foi assim por uns<br />
sessenta dias – vai, vem, afina, engrossa – e a 31 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1880, aos trinta e<br />
cinco anos, sete meses e <strong>do</strong>ze dias <strong>de</strong> existência, Pedro da Silva Nava pesou nos<br />
braços da amada com a violência e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> marmóreas <strong>do</strong> Cristo da Pietá e<br />
rolou no tempo que não conta – recuan<strong>do</strong> <strong>de</strong> repente às distâncias fabulosas e<br />
cicloidais on<strong>de</strong> estavam seu pai, seu avô imigrante, seus antepassa<strong>do</strong>s milaneses,<br />
genoveses, lombar<strong>do</strong>s, germanos orientais, o primeiro homem e o último<br />
antropoi<strong>de</strong> 146 .<br />
144<br />
Alguns autores tratam da questão. Destacamos: TEIXEIRA, Luiz Antônio; ESCOREL, Sarah. História das<br />
Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Brasil <strong>de</strong> 1822 a 1963: <strong>do</strong> Império ao <strong>de</strong>senvolvimento populista. In: GIOVANELLA, L. et al.<br />
(Org.). Políticas e Sistemas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 333-384.<br />
145<br />
CUNHA, Maria Clementina Pereira. O espelho <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: Juquery, a história <strong>de</strong> um asilo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e<br />
Terra, 1986. p. 29.<br />
146<br />
NAVA, Pedro. Baú <strong>de</strong> ossos: memórias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Sabiá, 1972. p. 75-77.<br />
83