06.12.2012 Views

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

tese - vanda do vale arantes - ufmg - Biblioteca Digital de Teses e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

na época em que a cida<strong>de</strong> principiava a modificar-se e a adquirir certas<br />

características menos primitivas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sabrochar da vida social e,<br />

principalmente, da vida intelectual com o aparecimento da folha maçom <strong>de</strong><br />

Pompeu Filho, Capistrano <strong>de</strong> Abreu, João Lopes e Rocha Lima. Esse jornal,<br />

sequência <strong>de</strong> uma tradição <strong>de</strong> imprensa que vinha <strong>de</strong> longe, teve importância<br />

maior que seus antecessores, não só pela qualida<strong>de</strong> intelectual <strong>do</strong>s que nela<br />

militavam, como por ser o porta-voz da luta entre os pedreiros livres liberais e<br />

progressistas contra o clero conserva<strong>do</strong>r e reacionário. O próprio aspecto<br />

material <strong>de</strong> Fortaleza começava a renovar-se, pois caía o preconceito <strong>de</strong> que suas<br />

areias não aguentavam construções pesadas e a i<strong>de</strong>ia otomana <strong>de</strong> que particular<br />

não podia morar em casa mais alta que a <strong>do</strong> sultão-presi<strong>de</strong>nte. Construía-se<br />

melhor, mais amplamente, assobradava-se, requintava-se nos móveis e nos<br />

ornatos externos e a casa passava a <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> elemento <strong>de</strong><br />

convivência social além <strong>do</strong> <strong>de</strong> simples moradia. São <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> os sobra<strong>do</strong>s<br />

cheios <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> das ruas José <strong>de</strong> Alencar, Formosa, Sena Madureira, <strong>do</strong><br />

Major Facun<strong>do</strong> – que se elevaram entre as casas baixas <strong>de</strong> “beira e bica”. As<br />

lindas bicas <strong>de</strong> metal, longas como as trombetas <strong>do</strong> Juízo e que, quan<strong>do</strong> vinham<br />

as gran<strong>de</strong>s chuvas, atiravam a água fora das calçadas para o banho público da<br />

meninada 140 .<br />

Em diversos momentos, Nava menciona o anticlericalismo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. O processo<br />

católico conheci<strong>do</strong> como Ultramontanismo ou Romanização atravessa os textos naveanos 141 .<br />

Esses <strong>do</strong>is aspectos levam-nos a perceber tensões e conflitos entre os diversos setores <strong>do</strong> Brasil<br />

que se iam urbanizan<strong>do</strong>. Pedro Nava, avô paterno – na escrita <strong>do</strong> memorialista – era homem <strong>de</strong><br />

hábitos urbanos, <strong>do</strong>minava o francês e excursionou pela Europa. As transformações urbanas <strong>de</strong><br />

Fortaleza – ícones da mo<strong>de</strong>rnização – foram contemporâneas a graves questões sociais e<br />

econômicas. Nava supõe que o contato com a Europa e com a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> varíola, que assolou<br />

Fortaleza em 1878, tenha si<strong>do</strong> marcante na família paterna: “Não é dificil conjeturar os motivos<br />

que trouxeram meus avós para a capital <strong>do</strong> Império. Primeiro, as viagens à Europa, requintan<strong>do</strong> a<br />

mentalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is e dan<strong>do</strong>-lhes ambição <strong>de</strong> vida mais alta, em meio maior e mais elegante” 142 .<br />

Nava conjetura que outros fatos po<strong>de</strong>m ter motiva<strong>do</strong> a família a <strong>de</strong>ixar Fortaleza. A região foi<br />

assolada por violenta seca, em 1877, e epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> varíola no mesmo ano e em 1878. Nava<br />

consultou textos e recorreu às memórias familiares para escrever sobre o assunto.<br />

140 NAVA, Pedro. Baú <strong>de</strong> ossos: memórias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Sabiá. p. 27.<br />

141 Ibid.<br />

142 Ibid., p. 62.<br />

81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!