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RISCO E FUTURO DA

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Justiça, corrupção e democracia<br />

Reflexões em torno da Operação Lava Jato<br />

Embora tenha, portanto, uma afinidade clara com o paradigma da Common<br />

Law, e seja amplamente usada no direito penal nos EUA, a colaboração<br />

premiada não está imune de controvérsias mesmo entre os norte-americanos.<br />

Em outubro de 2014, a revista The Economist publicou duas longas reportagens<br />

sobre a justiça criminal norte-americana, em que, segundo estudos,<br />

95% das condenações criminais são alcançadas mediante acordos de colaboração<br />

premiada. Altamente crítica, a reportagem sustenta que, por meio da plea<br />

bargaining, os promotores dominaram a justiça criminal norte-americana, em<br />

detrimento dos juízes, ameaçando, em nome do pragmatismo, os direitos civis<br />

dos cidadãos 37 .<br />

Para entender as críticas da revista, é necessário saber que, no sistema<br />

penal norte-americano, os crimes não possuíam, originalmente, como no<br />

nosso ordenamento, uma referência legal obrigatória que definisse sentenças<br />

mínimas e máximas para cada delito. Exemplo: para o crime de roubo, em<br />

nosso código penal, é prevista reclusão pelo mínimo de quatro e máximo de<br />

dez anos, sujeita a agravantes e atenuantes, além de multa. No julgamento<br />

penal norte-americano, o júri, amplamente utilizado para o julgamento de<br />

vários tipos de crimes, decide se o réu é culpado ou inocente. A partir daí, os<br />

juízes definem as penas dos declarados culpados levando em conta todas as<br />

circunstâncias do caso, a jurisprudência aplicável e exercendo um alto grau de<br />

discricionariedade. Esse sistema, formalmente, não acabou, mas foi modificado<br />

pela introdução, para certos crimes, das mandatory minimum sentences – sentenças<br />

mínimas obrigatórias, que nada mais são que as nossas definições legais de<br />

prazos mínimos e máximos de prisão para cada crime. As sentenças mínimas<br />

obrigatórias foram introduzidas no contexto da “guerra às drogas”. Conforme<br />

a legislação federal ou estadual, portanto, um crime de posse ou de tráfico de<br />

drogas deve ter uma sentença mínima e máxima.<br />

E quem define, nos delitos de droga, se um réu será acusado por posse<br />

ou por tráfico são os promotores, que têm utilizado, cada vez mais, a plea<br />

117<br />

37. The Economist. A plea for change: american prosecutors have too much power, hand it some to judges. Kings<br />

of courtroom: how prosecutors came to dominate the criminal-justice system. Oct 4 th 2014. Disponível em: ; . Acesso em: 21 out. 2015.

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