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RISCO E FUTURO DA

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Risco e futuro da democracia brasileira<br />

Direito e Política no Brasil contemporâneo<br />

62<br />

De novo: sei lá eu se o juiz da operação lavoura limpa acertou ou errou<br />

ao conceder a liberdade aos 21 imputados. Como disse, é provável que sim.<br />

Agora, o que posso dizer a vocês (na verdade, devo dizer a vocês — mesmo<br />

que uma parcela não goste que eu escreva coisas sofisticadas, porque preferem<br />

o mundo do senso comum dos livros resumidinhos, fofinhos e mastigadinhos)<br />

é que uma decisão como esta não honra o caráter democrático com que<br />

o Direito deve estar comprometido em Estados Constitucionais. A decisão<br />

não é legítima, porque não é amparada em argumentos de princípio. Não é<br />

universalizável, porque não posso simplesmente fazer um bypass no Direito<br />

Penal-Processual Penal por conta da (absolutamente constrangedora e, até,<br />

criminosa) situação carcerária do país. E, registre-se, nem o juiz deve ter compromissos<br />

com os erros institucionais do passado, não é disso que trata o dever<br />

de coerência e integridade. Desde quando dois erros fazem um acerto (Ah,<br />

mas se o Supremo soltou os caras da Lava Jato, então anything goes)?<br />

Ao fazer o que faço, lembro-me de Sísifo. A diferença é que não fui<br />

condenado a rolar a pedra pela montanha: eu a rolo porque acredito no que<br />

faço. Faz escuro, mas...eu canto, dizia o poeta.<br />

Cada um pediu uma república só sua; e o advogado, só<br />

um cafezinho! feliz!<br />

No livro Raízes do Brasil, escrito na década de 1930, Sérgio Buarque<br />

de Holanda faz uma leitura original da tragédia Antígona, de Sófocles, apresentando<br />

Creonte como defensor dos interesses da comunidade política em<br />

oposição aos interesses familiares de Antígona. Nesse sentido, os dois personagens<br />

principais da tragédia apresentaram conceitos opostos de nomos (norma,<br />

lei). Enquanto Antígona sobrepôs o interesse familiar às leis da pólis, Creonte<br />

evocou os valores públicos da comunidade política em oposição aos interesses<br />

privatistas e afirmou que, se qualquer um tiver mais consideração por um de<br />

seus amigos que pela pátria, esse homem eu desprezarei. Assim, para o autor<br />

de Raízes do Brasil, Creonte encarna a noção abstrata, impessoal da pólis.<br />

Ou seja, Creonte nos ensina a importância do fortalecimento das instituições<br />

públicas para a formação e preservação de um regime democrático, com um

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