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RISCO E FUTURO DA

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Autonomia do judiciário versus pretorianismo jurídico-midiático<br />

esse o procedimento adotado também no caso de José Dirceu. Aí se evidencia<br />

a des-institucionalização e a midiatização da PF e das instituições de sistema<br />

de justiça. Não me parece procedimento padrão que o delegado encarregado<br />

da investigação fale em nome da instituição, a não ser que ele se limite a informações<br />

sobre a operação, o que não foi o caso. No caso da prisão do ex-ministro<br />

José Dirceu, a entrevista coletiva se transformou em um grande evento<br />

midiático. Façamos algumas observações sobre a entrevista:<br />

(1) A própria participação de policiais federais, sem cargo de chefia ou<br />

função vinculada à divulgação pública da instituição, expressa o que podemos<br />

chamar de des-institucionalização, apesar de ser uma prática corriqueira especialmente<br />

se ela envolve interpretação sobre culpabilidade. No caso do procurador<br />

da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que participou da<br />

entrevista sobre a prisão de José Dirceu, ele afirmou logo em seguida não ter<br />

dúvida de que todos os casos repetem o mensalão e que “todos se originaram<br />

na Casa Civil do governo Lula”. (Carta Capital, 21/09/2015). O importante<br />

é que não são investigadas as dúvidas que precisam ser sanadas para de fato<br />

corroborar essa tese, que exige mostrar como José Dirceu comandou o esquema<br />

de dentro da Penitenciária da Papuda. Elas se transformam em teses para<br />

serem repetidas pelo complexo midiático. Assim, podemos ver que as instituições<br />

param de funcionar e pessoas no seu interior passam a assumir papeis que<br />

politizam e partidarizam aquelas instituições nas hipóteses defendidas por eles<br />

ou nas pistas que eles não investigam, como é o caso da Lista de Furnas. Os<br />

delegados que participam da Lava Jato já não devem obediência a ninguém na<br />

estrutura de poder da Polícia Federal, que, como bem afirmou o seu diretor<br />

em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, tampouco devem obediência ao<br />

ministro da Justiça. Aqui temos, claramente, o primeiro risco de passagem da<br />

autonomia judicial constitucionalmente estabelecida para um pretorianismo<br />

jurídico/policial.<br />

(2) Em segundo lugar, durante a entrevista são claramente violados os<br />

direitos dos presos, as provas coletadas são transformadas de indícios em verdades<br />

antes do devido processo legal. No caso da entrevista coletiva, após a<br />

prisão de José Dirceu, houve uma mudança na interpretação da própria Lava<br />

Jato, feita por um procurador da República e alguns policiais federais. Não se<br />

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