09.09.2016 Views

RISCO E FUTURO DA

7PvbRgWIV

7PvbRgWIV

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Risco e futuro da democracia brasileira<br />

Direito e Política no Brasil contemporâneo<br />

Jato, e ele respondeu: “– Ora, professor, não seria justo que os ladrões de agrotóxico,<br />

que são peixes menores, ficassem presos...”.<br />

“Só que não, seu Chico”. Eis o problema. O direito tem especificidades.<br />

Se uma lei – e o exemplo, ao que lembro, é de Paulo de Barros Carvalho – diz<br />

que três pessoas disputarão uma cadeira no Senado, nenhum jurista pensará<br />

que haverá uma peleia pelo móvel de uma das Casas do Parlamento. Mas<br />

talvez o marceneiro, sim. Por isso é que as respostas de um e de outro devem<br />

ser diferentes. Por vezes até “fecham”. Por vias tortas, um relógio estragado<br />

também acerta a hora duas vezes por dia.<br />

60<br />

O que é, afinal, decidir?<br />

Decisões judiciais não são teleológicas. E não são frutos de escolha,<br />

como tenho dito à saciedade em várias colunas e livros (em especial, Verdade<br />

e Consenso). Juiz deve decidir por princípios e segundo o Direito. E o Direito<br />

não é moral, não é sociologia, não é opinião pessoal e tampouco é o que o<br />

Chico-porteiro pensa. Direito é um conceito interpretativo e é aquilo que é<br />

emanado pelas instituições jurídicas, sendo que as questões a ele relativas encontram,<br />

necessariamente, respostas nas leis, nos princípios constitucionais,<br />

nos regulamentos e nos precedentes que tenham DNA constitucional, e não<br />

na vontade individual do aplicador. Ou seja, ele possui, sim, elementos (fortes)<br />

decorrentes de análises sociológicas, morais etc. Só que estas, depois que<br />

o direito está posto, não podem vir a corrigi-lo.<br />

Indo no ponto: A indignação pessoal do magistrado não é “razão de<br />

decidir”. Seu protesto não pode virar uma impostura e conspurcar o direito.<br />

Decidir é um dever, e não uma opção ou escolha: o direito não aconselha meramente<br />

os juízes e outras autoridades sobre as decisões que devem (ought to)<br />

tomar; determina que eles têm um dever (have a duty to) de reconhecer e fazer<br />

vigorar certos padrões, como diz Dworkin em seu Taking Rights Serioulsy.<br />

Dito de outro modo: pode até estar correta a soltura dos réus da operação<br />

lavoura limpa. Assim como o porteiro está certo em falar do caso do genro<br />

e da necessidade da soltura dos réus. O problema é que o juiz não poderia ter<br />

decidido como decidiu. A sociedade quer saber o que o Direito (conforme o<br />

conceito mencionado acima) tem a responder nesse caso. Isso se chama de res-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!