CADERNO DE RESUMOS do II SIICS

II Simpósio Internacional Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (II SIICS) do PGCult - UFMA
BARROCO ÁULICO: O RARO FEMININO COMO TEMA DE PAINÉIS
AZULEJARES EM FIGURA DE CONVITE
Paulo Cesar Alves de Carvalho
RESUMO
Esta comunicação tem como ponto de partida o restauro realizado por mim, na condição
de estagiário do Museu Nacional do Azulejo de Portugal - MNA entre 1988-99, de um
painel de azulejos do século XVIII do tipo “Figura de Convite” feminino oriundo da
Casa Vilhena em Lisboa, pertencente ao período Joanino e que sobreviveu ao terremoto
de 1755. Este período foi caracterizado pelo extremo desempenho das atividades
artísticas e decorativas sobre o azulejo azul e branco, de acabamento recortado
curvilíneo em seus extremos, além de representar importante peça documental sobre a
vida na corte de João V com figuras humana em escala natural e traçados de delicadeza
e criatividade onde predominam os binários claro/escuro; luz e sombra; vigor,
ostentação e luxo cortesão. A instrução, a partir de então, apontava para a
preponderância de cenas comportamentais da nobreza a etiqueta social ao modo francês,
hábitos, vestuário, traje, sapatos de tacão e perucas referendadas pelas assinaturas dos
artistas de uma “nova escola” reconhecida pela historiografia da arte como “ciclo dos
grandes dos grandes mestres”. Cumpre ressaltar que, em mundo marcadamente
masculino a farta representação gráfica da figura do homem em painéis dessa categoria
alcançou a exaustão, contudo, com a localização desse painel da casa Vilhena, e nele a
presença da Figura de Convite feminino, podemos lançar um novo olhar analítico,
pautado na abordagem de gênero. Isso porque ambos apresentam funções cortesãs
paralelas ou antagônicas entre o feminino e o masculino, ora como damas e ou lacaios.
Por tais funções, a representação das “Figuras de Convite” inaugura junto a arte,
atrelada a arquitetura, o ato de receber e acolher ou hostilizar o visitante à entrada da
casa/o palácio. Desse modo, subseqüentes formas evolutivas na produção desse produto
artístico azulejar inovam e vão inquirir um diálogo direto com o público, através de
gestos e/ou palavras escritas, do tipo legenda/fala dos “balõezinhos onomatopeicos”, tão
comuns nos contemporâneos H.Q. (histórias em quadrinhos). Esse achado pontua assim
um paradoxo onde, de fato, a raridade de imagens femininas parece desordenar o
poderio masculino x feminino. Aponta-nos as observações as questões acerca do
gênero em retratação e a documentação da mulher “mais real” perante mulheres em
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